Por Paulo Lannes

Não há como negar. A segunda temporada de “American Crime Story”, centrada no assassinato do estilista Gianni Versace, é uma série cheia de desafios. Baseada numa história real cheia de momentos não documentados e muitos personagens ainda vivos e influentes na mídia, conseguiu manter o equilíbrio nas cenas, de modo que um desavisado poderia crer que se trata de uma narrativa totalmente ficcional.

Ou seja, “Versace” convence e, mais do que isso, complexifica os fatos de modo a deixar os espectadores assombrados. Seu principal mérito foi tratar Andrew Cunanan (Darren Criss) como o protagonista da trama, sem deixar de fazer a devida homenagem ao seu personagem mais ilustre, o próprio Gianni Versace (Édgar Ramirez). Na série, conhecemos a fundo sua relação com a irmã Donatella (papel da excelente Penélope Cruz) e as dificuldades que enfrentou ao mostrar ao mundo que é gay depois de revelar, na mídia, quem era seu parceiro amoroso (Antonio D’Amico, interpretado por Ricky Martin).

 

 

Andrew é um personagem tão inesperado que poderia ter saído de uma obra literária de Dostoiévski. Na formatura da escola ele seria eleito o aluno “que mais provavelmente não seria esquecido” e – veja só – sua frase no anuário foi: “Depois de mim, a destruição”. Filho de pais com sérios problemas psicológicos, que passaram despercebidos pela sociedade norte-americana, ele usou toda sua frustração com a falta de brilho e riqueza na sua vida para assassinar cinco homens que conheceu ao longo da sua incomum trajetória.

Assim, conhecemos a fundo os caminhos do jovem e belo serial killer, que é alvo de uma gigantesca caçada da polícia – que, por sua vez, só viria a ocorrer por causa da morte do estilista, evidenciando a homofobia institucional, que não impediu Andrew em sua “carreira” mortífera. A série amarra sua trajetória de tal modo que permite o espectador perceber os sinais seus sinais de perturbação desde a infância até seu violento fim aos 28 anos.

Se na primeira temporada, dedicada ao julgamento de O.J. Simpson, a narrativa não se ateve ao problema do racismo estrutural, abordando críticas ao machismo, à estrutura policial e judicial estadunidense e ao papel da mídia na cobertura de todo o processo, o que vemos na nova temporada é um trabalho parecido: a homofobia é explicitada com força, mas está lá também críticas às noções comportamentais da década de 1990, à marginalidade dos que não vivem de acordo com a sociedade do consumo, às estruturas familiares tradicionais e aos amores frustrados.

 

 

 

Porém, talvez a série tenha pecado pelo excesso de melancolia. Com nove episódios, ao menos um foi dedicada à ascensão e queda de cada um dos homens assassinados (sempre a partir da perspectiva do assassino, é claro). Daí, fica um certo de sentimento doloroso pelo niilismo da violência: Andrew matou um militar, um arquiteto, um bilionário e filantropo, um coveiro e um estilista-celebridade – todos de idades e cidades diferentes. Uma verdadeira máquina de terror sem lógica em seus atos criminosos.

 

É o caso das cenas que envolvem o arquiteto David Madson (Cody Fern), que é retratado como um jovem bom e de sucesso que conviveu com a dor do preconceito dentro de casa e mesmo assim se saiu bem na vida, até se tornar alvo da paixão (e obsessão) de Andrew e ser morto após horas de sequestro no meio de um campo, longe de casa, por recusar o pedido de casamento de seu futuro assassino. Um gosto amargo em uma série muito bem elaborada.

 

Pôster

 

Ficha Técnica:

Ano: 2018

Número de episódios: 9

Nacionalidade: EUA

Gênero: drama, crime

Criador: Ryan Murhpy

Elenco: Édgar Ramírez, Penélope Cruz, Darren Criss, Ricky Martin

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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