Por Luciana Ramos
Uma mãe adolescente usuária de drogas é chamada a atenção pela juíza da vara da infância sobre a maneira relapsa que cria seu filho: o pequeno Malony, de seis anos, não vai à escola há dias. Este, muito quieto, reveza-se entre a fascinação pelos brinquedos da sala e o olhar atônito à mãe, que berra sem parar sobre o comportamento irascível da criança e de como ela dificulta a sua vida. Por fim, ela decide deixá-lo ali mesmo, levanta e vai embora.
A próxima vez que vemos Malony (Rod Paradot) ele já é um rapaz de quinze anos. Dadas as condições em que foi criado, sem limites ou amor fraternal, primor pela educação e num ambiente inóspito, coube a ele tornar-se um delinquente.
Sua “especialização” é o roubo de carros. Um incidente do tipo o põe frente a frente mais uma vez com a juíza infantil Florence Blaque (Catherine Deneuve). Esta tornou-se uma presença frequente ao longo dos anos, sempre interferindo na sua educação como forma de suprimir a carência maternal. A postura do menino, desta vez, é diferente: um olhar raivoso e atitude de quem não se importa com o próprio rumo e muito menos com figuras de autoridade.
O jovem delinquente é mais uma vez afastado da mãe desmiolada (Sarah Forestier) e mandado para um centro de reabilitação, uma fazenda grande recheada de jovens como ele que propõe o trabalho comunitário e a educação como formas de reinserção social.
Ele é acompanhado por Yann (Benoît Magimel), seu tutor, um ex-delinquente que superou as adversidades para agora ajudar outros jovens. Lá também conhece Tess (Diane Rouxel), filha de uma professora, garota estilo tomboy com quem começa a se envolver.
Oscilando entre a determinação em melhorar o seu comportamento e o total desprezo pelo universo ao redor, Malony comete delitos com frequência, tornando-se previsível, perigoso e cada vez mais irrecuperável.
A força da dinâmica do filme vem do embate entre o determinismo social e um sistema judiciário que realmente propõe a recuperação dos seus jovens, conferindo a eles inúmeras oportunidades de um futuro melhor. Porém, a concatenação de vários episódios similares provocam uma lentidão narrativa facilmente sentida pelo espectador, que poderia ser suprimida com um roteiro mais enxuto.
O grande destaque do longa fica por conta das atuações. A musa do cinema francês Catherine Deneuve prova estar em excelente forma artística exercendo controle absoluto da sua personagem, que oscila entre a rigidez e o tom maternal.
No entanto, a grande surpresa é a fantástica atuação do estreante Rod Paradot. Ele faz um trabalho excelente na construção de um jovem complexo e raivoso, que possui a dureza das ruas e a sensibilidade adolescente.
“De cabeça erguida” é impulsionado pelas ótimas atuações e merece ser visto pela forma realista e impactante que aborda a questão da delinquência na França.
Ano: 2015
Duração: 120 min
Nacionalidade: França
Gênero: drama
Elenco: Catherine Deneuve, Rod Paradot, Sarah Forestier, Benoît Magimel
Diretor: Emmanuelle Bercot
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