Por Luciana Ramos

 

Seguindo os passos do seu predecessor, “Skyfall”, “007 contra Spectre” explora as fraquezas do agente secreto mais famoso do mundo em trama densa. Esta condensa eventos dos quatro filmes da nova era Bond e ainda presta homenagem aos seus clássicos mais antigos.

O início do novo filme da franquia é a continuidade direta dos eventos finais de seu longa anterior. Uma mensagem enigmática da falecida M (Judi Dench) leva James Bond (Daniel Craig) à Cidade do México na excelente sequência de abertura, que conta com um plano-sequência majestoso.

007 1

Depois de explodir meia cidade e escapar de uma queda de helicóptero sem suar (Bond, James Bond), ele descobre em Roma uma poderosa e obscura organização chamada SPECTRE, responsável por ataques terroristas ao redor do mundo. Para desespero do protagonista, a mente deturpada por trás revela ser um homem do seu passado, conhecido como Blofeld (Christoph Waltz), que possui ligações com tragédias importantes da sua vida.

Motivado em por um fim na organização, o agente recorre à ajuda da filha de outro inimigo, a Dr. Madeleine Swann (Léa Seydoux). Além dos obstáculos usuais, ele terá que lidar com a restrição da sua “licença para matar”, fruto da junção da MI6 com um Centro de inteligência que promete erradicar a violência através da vigilância eletrônica absoluta.

Embebido em referências, o roteiro do novo filme da franquia Bond explora bem os personagens e eventos principais de “Cassino Royale”, “Quantum of Solace” e “Skyfall”, que ressurgem como parte de um quebra-cabeça muito mais complexo, orquestrado por Blofeld.

 

“007 conta Spectre” consolida-se, nesse sentido, como denominador comum de todas as estórias, dando vazão a um inevitável confronto de Bond com o seu passado. Como resultado, há o enceramento do arco dramático do atual agente 007, o que indica que esse possa ser a última produção do ator Daniel Craig como rosto da franquia.

O roteiro não tem a mesma coragem narrativa do seu anterior, mas certamente configura um avanço na densidade dramática em relação à franquia como um todo. Bem amarrado e extremamente divertido, consegue prender a atenção, como propõe seu gênero, e oferecer boas justificativas para o desenrolar dos eventos. Ainda assim, peca pela tímida exploração do elo entre o protagonista e seu antagonista direto: a falta de expressão facial de Bond ao reconhecer seu inimigo de longa data é uma falha bastante sentida.

 

O filme também sofre um pouco pela inclusão das cenas de sedução, que reverenciam a persona do agente 007. Estas são esperadas pelo público e geralmente acompanhadas da sua clássica apresentação “Bond, James Bond”, mas foram mal inseridas e parecem desconexas com o resto da estória. Porém, cabe salientar que esse deslize não é incomum nos outros longas da franquia e os fãs mais fervorosos não se importarão. Em contraponto, o longa consegue resgatar de maneira bastante positiva o humor sarcástico britânico, característico das produções com Sean Connery e Roger Moore.

Tais escolhas narrativas ajudam a moldar “007 contra Spectre” como uma grande homenagem aos 50 anos de James Bond no cinema, completados neste ano. Para alegria dos fãs, foram ainda incluídos alguns dos mais famosos artefatos, como o relógio multifuncional e o assento ejetável, que proporcionam graça e leveza ao longa.

 

007 5

 

Em seu quarto filme na pele do agente 007, Daniel Craig continua a explorar uma linha mais realista, interpretando um Bond que sangra e é emocionalmente atingido pelos eventos ao seu redor. O grande destaque, porém, fica com Léa Seydoux, seu interesse romântico, que segue a linha de complexidade de Vesper Lynd (Eva Green). Oferecendo uma atuação sólida e sexy na medida certa, a atriz francesa provou ser uma excelente escolha para desempenhar uma Bond Girl.

“007 contra Spectre” consegue entreter, prendendo a atenção do espectador do começo ao fim sem cansá-lo. Inteligente e bem construído, oferece aos fãs todos os elementos que eles adoram da franquia e consegue ir além no aprofundamento da desconstrução do seu protagonista. Ainda que possua algumas falhas e não tenha o impacto de “Skyfall”, representa o melhor de James Bond.

 

Ficha técnica 007 poster


Ano:
 2015

Duração: 148 min

Nacionalidade: Inglaterra

Gênero: ação, aventura, suspense

Elenco: Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux

Diretor: Sam Mendes

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

Veja Também:

As Polacas

Por Luciana Ramos Se tem uma coisa que 2024 mostrou aos brasileiros é que o cinema é uma matéria pulsante...

LEIA MAIS

Estômago II - O Poderoso Chef

Por Luciana Ramos   Alguns ingredientes foram determinantes para o sucesso de “Estômago” (2008), um filme de baixo orçamento que...

LEIA MAIS

O Dublê

Por Luciana Ramos   Colt Seavers (Ryan Gosling) é um dublê experiente, que se arrisca nas mais diversas manobras –...

LEIA MAIS