Por Murillo Trevisan
Na indústria do entretenimento, alguns atores se encaixam tão perfeitamente ao personagem que fica difícil desvincular um do outro. Esse fato pode muito bem ser exemplificado pelas figuras de John Wick e Keanu Reeves. Assim como anti-herói que da nome à saga, o protagonista da trilogia “Matrix” também teve uma vida bastante conturbada, tendo que enfrentar diversas batalhas.
Vindo de uma família problemática, o pai de Reeves foi preso quando ele tinha apenas 12 anos de idade. Para conseguir pagar as contas, a mãe trabalhou como stripper em boates. Reeves também teve de lidar com a morte do seu melhor amigo, River Phoenix (irmão de Joaquim Phoenix), que sofreu uma overdose em frente a uma boate em Los Angeles. Além de perder uma filha com Jennifer Syme, dias antes de seu nascimento, e posteriormente a própria atriz – ex-mulher na ocasião – em um acidente de carro.
Tragédias à parte, o fato é que Keanu Reeves consegue enfrentar na vida real tantos desafios quanto Wick em sua jornada de sobrevivência na ficção. O ator que dispensa o uso de dublês, vive um treinamento intenso para elevar o potencial do assassino de aluguel ao máximo, o transformando em o mais temido dos temidos.
Após os eventos de “John Wick: Um Novo Dia Para Matar” (também conhecido como “John Wick 2”), John foi “Excommunicado” dos benefícios do Hotel Continental e tem sua cabeça a prêmio, passando a ser perseguido pelos membros da Alta Cúpula. Agora, ele precisa unir forças com antigos parceiros que o ajudaram no passado enquanto luta por sua sobrevivência.
Com a proposta diferente dos dois primeiros longas, onde o protagonista buscava vingança após matarem seu cachorro e roubarem seu carro, agora a direção mudou e é ele quem está sendo caçado. A trama aposta em um jogo de “gato e rato”, uma corrida frenética contra o tempo que nos rende as melhores coreografias de gun fu (kung fu com armas) de toda a franquia. A exemplo de usar coices de cavalos para se defender dos ataques, ou o tão falado uso do lápis.
Aqui o diretor Chad Stahelski – que curiosamente foi dublê do Neo (Keanu Reeves) em “Matrix” – abre mão da seriedade e assume (ainda que em tom sereno) a galhofa que um argumento absurdo desses poderia proporcionar. Mais diálogos cômicos são acrescentados exaltando a lenda em que o “Baba Yaga” se transformou, contribuindo ainda mais para suspensão de descrença do espectador.
O universo da franquia também toma mais forma com a adição de novos personagens, como é o caso da Juíza (Asia Kate Dillon), que lidera a busca da Alta Cúpula pela cabeça de Johnathan, da Diretora (Anjelica Huston) que o proporciona a desejada fuga, e da assassina Sofia (Halle Berry), personagem tão interessante que renderia facilmente um excelente spin-off.
Conforme já citado – e esperado de um filme produzido por dublês – as cenas de ação são espetaculares. As lutas, além de muito bem coreografadas e criativas, são beneficiadas pela estética sombria – contrastada com neons – e pela movimentação de câmera, que capricha nas transições suaves exaltando a cinesia dos golpes.
Apesar das qualidades técnicas aqui exaltadas, o roteiro de Derek Kolstad (“De Volta ao Jogo”) e Shay Hatten (“Army of the Dead”) desliza na história, apresentando soluções rasas, apenas como justificativas para John sair por aí dando porrada na metade da população de Nova Iorque. O filme novamente se apoia em um gancho levemente forçado, para dar uma desnecessária continuidade à essa história que poderia muito bem ter sido fechada com chave de ouro em uma trilogia.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 130 min
Gênero: Ação, Crime, Suspense
Diretor: Chad Stahelski
Elenco: Keanu Reeves, Halle Berry, Ian McShane, Laurence Fishburne, Lance Reddick, Asia Kate Dillon