Por Luciana Ramos
Filmes de Natal sempre foram um grande filão comercial para Hollywood e a repetição temática desdobrou-se, ao longo das décadas, na construção de um arcabouço simbólico que permeia tais roteiros: há sempre uma jornada de engrandecimento pessoal, embebida pela descoberta do “espírito natalino”; tretas familiares são resolvidas bem a tempo de abrirem os presentes abaixo das árvores e, não importa o que aconteça, o bom velhinho nunca deixa uma criança sem presentes.
Algumas produções, no entanto, esforçam-se para apresentar novas ideias, questionando valores como a bondade absoluta em tramas carregadas na comédia ou ação. “Noite Infeliz” segue essa tradição ao mesclar referências de filmes queridos de Natal em uma narrativa um tanto genérica, mas que privilegia o confronto direto do Papai Noel (aqui, um tipo brutamontes, afeito ao sadismo e álcool) com um grupo de mercenários.
Tudo começa na noite do dia 24, com um Noel (David Harbour) bêbado e desmotivado seguindo para fazer o seu trabalho. Irritado pela tarefa e meio de saco cheio do puxa-saquismo dos homens (ou a falta de criatividade em deixar biscoitos e leite ao pé da lareira), ele briga com suas renas, que o abandonam à própria sorte em um complexo familiar rico. Como se não bastasse, este foi invadido por um grupo de bandidos altamente especializados, que almejam roubar 300 milhões de dólares dos Lightstones, mantidos reféns dentro da casa.
A presença da pequena Trudy (Leah Brady), grande entusiasta dos valores natalinos, comove o bom velhinho, que decide resgatá-la da maneira mais simples possível: caçando os bandidos um a um. Desenrola-se, assim, uma frenética batalha a comando de um homem focado e sanguinário, que aproveita a ocasião para destilar criatividade em cada matança – de queimaduras com luzinhas a cabeças decepadas, o cardápio é bem vasto. Curiosamente, ele faz sempre questão de checar na lista de Naughty/Nice o caráter da pessoa antes de escolhê-la como alvo.
O roteiro de “Noite Infeliz”, escrito por Pat Casey e Josh Miller, é uma derivação consciente de filmes aclamados, como “Duro de Matar”, “Esqueceram de Mim” e “Milagre na Rua 34”. Mais do que homenageá-los, a narrativa copia, no caso do primeiro, a arquitetura da história, transformando Noel em uma espécie de John McLaine porradeiro. Das demais, adota as melhores passagens, mostrando pouca ambição criativa. Ele é assumidamente um mash up de filmes melhores e, por isso, exime-se de investir em maior desenvolvimento do roteiro: notadamente, a dinâmica tortuosa da família Lighstone poderia ser mais bem explorada, assim como o background de Scrooge. Contentando-se em oferecer ao público o básico, “Noite Infeliz” aposta no carisma de seu protagonista para se valer.
David Harbour literalmente carrega o longa, contrastando a fisicalidade com certo deboche, por vezes apresentando uma vulnerabilidade bem-vinda que ajuda na conexão da sua personagem com Trudy. Essa contraposição entre pureza e aspereza dita o tom da produção, muito eficiente na construção de sequências de ação ao mesmo tempo apelativas e engraçadas. Mesmo sem oferecer grandes lampejos de criatividade, “Noite Infeliz” cativa e diverte, satisfazendo os anseios daqueles que gostam de assistir a filmes natalinos com um pequeno twist.
Ficha Técnica
Ano: 2022
Duração: 1h 52 min
Gênero: ação, comédia, crime, suspense, Natal
Direção: Tommy Wirkola
Elenco: David Harbour, Leah Brady, John Leguizamo, Alexis Louder, Mitra Suri, Alex Hassell, Beverly D’Angelo