Por Luciana Ramos
Seguindo o exemplo de sucessos televisivos transpostos para o cinema, como “A grande família” e “Cilada.com”, “Vai que cola: o filme” dá continuidade à peça encenada de mesmo nome, exibida no canal a cabo Multishow, em filme raso, recheado de piadas estereotipadas e pouco inspiradas.
O longa começa com uma breve introdução à história pregressa de Valdomiro Lacerda (Paulo Gustavo). Pilantra de carteirinha, ele levava uma vida boa no Leblon, morando em uma luxuosa cobertura de frente para o mar. Porém, o seu envolvimento em uma falcatrua o faz perder tudo e ter de enfrentar o seu pior pesadelo: morar no subúrbio, mais especificamente na pensão da Dona Jô, localizada no Méier (cenário da série).
Quando o ex-sócio o convida para retomar sua mansão em um ardiloso esquema, ele aceita sem pestanejar. No entanto, uma catástrofe o impossibilita de negar a invasão dos suburbanos moradores da pensão na luxuosa cobertura.
“Vai que cola: o filme” é claramente um veículo para Paulo Gustavo. O ator, que também assina a produção, apresenta e contextualiza os demais personagens e conduz o “conflito”. Infelizmente, sua empreitada teve um resultado péssimo, já que o longa não passa de uma concatenação de piadas superficiais e preconceituosas.
O elemento básico do longa é a caracterização de estereótipos, recurso muito comum no humor brasileiro: Samantha Schmütz é a “piriguete”, Fiorella Mattheis a loira burra , Cacau Protássio é a gorda, Marcus Majella o gay afeminado, Emiliano D’Ávila é o rapaz sem cérebro. Não faltam diálogos que enfatizem o quão unilaterais são esses personagens. Ademais, num claro jogo de depreciação do subúrbio x glorificação da zona sul (outra estratégia bastante utilizada), é acentuado o deslocamento destes em um universo que, segundo o roteiro, não os pertence.
Nesse sentido, as cenas são reiterações constantes do humor pela depreciação, seja pelas situações a que os atores submetem-se para tentar arrancar o riso ou na agressividade do tratamento que Valdomiro dispensa aos seus “amigos”. Não faltam xingamentos, olhares de desdém, gritos que os lembrem que são suburbanos. Em determinado momento, ele até diz claramente que o apartamento está “fedendo ao Méier”.
Não obstante, o longa ainda é bastante prejudicado pelas inserções metalinguísticas de Paulo Gustavo. O ator quebra por diversas vezes a quarta parede ao dialogar com o espectador diretamente e lembrá-lo que se trata de uma obra ficcional. Este recurso, comum nos palcos do teatro, é usado excessivamente, tornando-se cansativo e prejudicando assim a empatia do público para com o filme.
“Vai que cola: o filme” erra feio no tom e trilha o caminho do mau gosto em uma trama cuja necessidade de existência ainda permanece um mistério.
Ano: 2015
Duração: 105 min
Nacionalidade: Brasil
Gênero: comédia
Elenco: Paulo Gustavo, Catarina Abdalla, Fernando Caruso, Emiliano D’Ávila, Marcus Majella, Fiorella Mattheis, Cacau Protássio, Samantha Schmütz
Diretor: César Rodrigues
Trailer:
Imagens: