Por Marina Lordelo
E mais uma vez o cinema tenta explorar o interminável tema de espionagem entre russos e estadunidenses, nas figuras da KGB e CIA. Dessa vez Luc Besson (“O Quinto Elemento”, 1997) cria a personagem Anna (Sasha Luss), uma jovem garota russa de passado arrasador, que se torna uma espiã assassina. Em uma tentativa de narrativa não linear, o diretor e também roteirista transita pelo tempo para construir uma história que visita Moscou, Paris e Nova York para explicar as decisões de Anna em sua carreira de espiã.
Como o roteiro não dá conta de equalizar as tantas idas e vindas temporais, a narrativa se torna frágil e quebradiça. Helen Mirren (no papel da chefe Olga) e Cillian Murphy (o agente estadunidense Lenny) seguram as pontas na atuação que, centrada na quase estreante Sasha Luss, oscila entre a maturidade e competência dos veteranos e a ingenuidade e os apelos da protagonista. Há potencial em Luss e em sua beleza misteriosa e contida, mas Besson não consegue fazer com que a jovem modelo tenha o seu melhor desempenho como espiã russa. As coreografias de luta saem com um saldo positivo, ainda que vez ou outra sejam meras coreografias, e a montagem de Julien Rey ajuda na agilidade necessária para Anna conseguir se livrar de seus algozes.
A câmera de Thierry Arbogast quase nunca é fixa, mesmo quando seria absolutamente necessário. O que parece ser uma tendência desse cinema de ação contemporâneo, tem se tornado um estigma cansativo, de linguagem apressada e uma forma mais vaidosa de declarar o orçamento refinado do filme em questão. Arbogast cai nessa armadilha e acompanha tudo com panorâmicas infinitas, travelling em todos os eixos e, obviamente, steadicam, a câmera no corpo em seu poder mais sofisticado.
Como se não bastasse na história não linear que faz uso de flashbacks no estilo “powerpointiano“, há ainda problemas de construção da feminilidade de sua protagonista. Uma bissexualidade sem coragem e sem uma expressão equilibrada, a atribuição exclusiva do desempenho intelectual (de forma recorrente) ao xadrez e a manipulação heteronormativa subestimam a capacidade de compreensão do espectador e constroem uma personagem que briga a trama inteira por força, independência e liberdade mas que emana insegurança, fragilidade e subordinação. Falta perigo em Anna.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 119 min
Gênero: Ação, Thriller
Diretor: Luc Besson
Elenco: Sasha Luss, Helen Mirren, Luke Evans