Alguns filmes, como “E o Vento Levou”, entram para a história do cinema como marcos da exuberância que Hollywood é capaz de imprimir nas grandes telas. Outros, como “Cidadão Kane”, provam-se tão inovadores em estilo e narrativa que mudam a forma de se pensar a arte. Há ainda os que permanecem socialmente relevantes mesmo décadas depois do seu lançamento.
Certas obras possuem uma qualidade atemporal que tornam a sua apreciação necessária de tempos em tempos. Outras, no entanto, conseguem refletir apenas os anseios da sua época, permanecendo empoeiradas nas prateleiras de cinéfilos mais ávidos, envolvidos pela nostalgia.
Esse é o caso da produção original de “Sete Homens e Um Destino”. Grandiosa em estilo, atingiu imenso sucesso pela conjunção de astros em ascensão, como Steve McQueen e Charles Bronson, fantástica trilha sonora, panorâmicas áridas características do gênero e o confronto entre o bem e o mal. Além disso, soube adicionar mais elementos à narrativa, transformando o anti-herói solitário em sete justiceiros e incluindo o processo de preparo para o embate como forma de adicionar tensão.
Na história, uma vila mexicana é vitima de constantes arrastões, liderados por um homem chamado Calvera (Eli Wallach). Indefesos, os bandoleiros unem-se e recorrem a ajuda de Chris Adams (Yul Brynner) para bolar um plano que os permita enfrentar o bando. Em troca de uma pequena porção de dinheiro, este encarrega-se de recrutar mais seis homens, os melhores pistoleiros do Oeste, para ajuda-lo na missão.
As habilidades individuais sobrepostas às dificuldades encontradas pelo caminho tornam o roteiro atrativo de início; a sua base narrativa é intrigante e provoca uma preocupação nítida pelo desenrolar dos fato. Porém, a experiência como um todo deixa um pouco a desejar. De alguma forma, o longa parece incrivelmente datado.
A teatralidade excessiva contribui para essa percepção, aliada ao claro apelo comercial, demonstrado pela necessidade de inclusão de um romance desnecessário e passagens tolas, como o encontro de um cowboy com um touro. Não obstante, a trama sucumbe a reviravoltas pouco críveis. Para piorar, há a reprodução de conceitos estereotipados que não dialogam com os anseios sociais de hoje. Além da caracterização tola e simplista dos mexicanos, duas passagens causam bastante estranhamento: uma refere-se a uma piada sobre estupro; outra envolve uma tentativa bizarra de Bernardo O’Reilly (Charles Bronson) em disciplinar um garoto mexicano.
As falhas narrativas são suavizadas pelo bom uso da paisagem como um personagem adicional. Grandiosos travellings exploram o espaço e a cenografia, que reproduz as primarias cidades e vilarejos nos territórios americano e mexicano. As imagens são pontuadas pela maravilhosa trilha sonora, empolgante e vigorosa, que permanece ainda hoje como uma das melhores já feitas.
Diante do exposto, a versão de 1960 de “Sete Homens e Um Destino” consegue ser apreciada como um produto histórico, uma exposição dos atributos de um gênero que foi imensamente popular e perdeu espaço com o advento de estilos mais modernos. Ademais, como os outros westerns, atua como um retrato dos valores conservadores americanos, reproduzidos por personagens dotados de certa dubiedade. Como tanto, merece ser assistido, requerendo certo investimento adicional do espectador para sublimar as passagens mais dissonantes da nossa percepção de mundo atual.
Confira algumas curiosidades sobre a produção de “Sete Homens e Um Destino”:
- Este filme é a versão americana de “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa, aclamado internacionalmente após exibição no Festival de Cannes.
- Foi o ator russo Yul Brynner que teve a ideia de adaptar o clássico japones e a compartilhou com Walter Mirisch, que assumiu a produção.
- Uma famosa rixa consolidou-se durante as filmagens. Yul Brynner considerava Steve McQueen um ator pouco humilde e colaborativo, que usava de truques em cena para atrair a atenção dos espectadores. A progressão da disputa chegou ao ponto de Brynner atuar em cima de um montinho de terra para não parecer mais baixo que McQueen.
- Gene Wilder e George Peppard fizeram testes para interpretar Vin, mas Steve McQueen foi escolhido. Outros atores cogitados para a produção foram Clark Gable, Anthony Quinn e Spencer Tracy.
- Robert Vaughn, que interpreta um dos sete justiceiros no filme, participou da série de TV “Sete Homens e Um Destino”, lançada em 1998.
- Yul Brynner atingiu o estrelato em Hollywood após interpretar o papel do rei Mongtuk no musical “O Rei e Eu”, em 1951. Seu personagem era careca e o público identificou-se tanto com essa imagem que o ator passou a raspar os cabelos como uma marca pessoal, o que fez pelo resto da vida. Pelo papel, ele ganhou um Tony (pela versão da Broadway) e um Oscar, feito raríssimo na época.
- A música tema, composta por Elmer Bernstein, é uma das mais identificadas com o gênero western, em grande parte por ter sido usada por anos nos comerciais do cigarro Marlboro.
- A trilha sonora contou com a participação do jovem John Williams na orquestra: ele tocou piano.
- A cena em que um tiroteio destroi uma loja de dois andares foi feita com munição de verdade.
Ficha técnica
Ano: 1960
Duração: 128 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: western
Elenco: Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, Brad Dexter, James Colburn
Diretor: John Sturges
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