Por Marina Lordelo

Dezenove anos depois da estreia de As Panteras (Charlie’s Angels, 2000), Elizabeth Banks consegue trazer de volta ao cinema mainstream sua releitura atualizada das espiãs mais elegantes das telas. Uma obra multiplataforma, que esteve também na televisão em um formato seriado entre as décadas de 1970/80. Em As Panteras do século XXI, a trama precisa das Angels de Charlie para proteger uma engenheira que resolve delatar segredos tecnológicos perigosos de sua empresa. A obra assume então uma visão centrada em uma premissa feminina – há uma mulher na direção e no roteiro, na montagem, nas canções, no papel icônico de Bosley e em uma série de outros departamentos. Banks consegue não apenas comandar uma equipe que pensa o filme como uma unidade de gênero mas também desloca os personagens masculinos para estigmas até então presentes no universo feminino do cinema – eles são frágeis, menos habilidosos, menos carismáticos, funcionam como alívio cômico, e, muitas vezes, são detestáveis.

Assim a Sony dispara em uma linguagem vanguardista do mainstream que assume o lugar das mulheres como fonte de entretenimento sério e responsável. Ainda que o roteiro precise abrir mão de sutilezas para escancarar o machismo, escorregando aqui e ali, há delicadeza nas recompensas que este oferece para cobrir a narrativa. A engenharia de Banks não para por aí: ela consegue agregar de forma eficiente e nada fútil o imaginário fashionista que há em volta da sequência. As roupas, sapatos, acessórios e gadgets modernos utilizados pelas personagens compõem o “fanservice” que não ignora homenagens às Angels mais antigas.

As protagonistas, além da própria Banks no papel de Bosley, são então: Kristen Stewart (como a leve e descolada Sabina), Ella Balinska (como a habilidosa e sedutora Jane) e Naomi Scott (como a nova recruta super inteligente), um trio que não só preconiza a diversidade étnica como sexual, premissas que engrandecem e complexificam essas mulheres que quase nunca estão submetidas sexualmente a homens, a não ser quando isso adiciona um elemento à narrativa. Como gênero de ação o filme alcança uma expectativa interessante, com coreografias ligeiras, com pouco uso do slow motion, mas evidenciando cortes rápidos e numerosos em uma montagem que tenta esconder imperfeições coreográficas. Falta muito da habilidade marcial de Lucy Liu e os movimentos anos 2000 nas lutas mais promissoras do remake.

A câmera ágil (com 8K de resolução!) de Bill Pope, mergulha em planos simétricos enquanto aposta em planos gerais que valorizam a arquitetura dos mais diversos cenários. As Panteras viajam então do Rio de Janeiro, até Hamburgo, Califórnia (sede de treinamentos da agência Townsend), Londres, Istambul e Chamonix, na França, explorando a diversidade das paisagens europeias, ampliando ainda mais o valor de produção da obra (que gira em torno de 50 milhões de dólares).

Ainda que o didatismo (inerente ao mainstream estadunidense) não consiga abrir mão da construção do roteiro, a atualização da história para os anos 2019 é eficiente em muitos aspectos, sobretudo no que tange ao domínio feminino – o machismo é desagradável e escancarado e falta sutileza em assumir a sua estrutura social. O entrosamento entre as protagonistas deixou um pouco a desejar, criando um descompasso entre a atuação cômica de Stuart e a interpretação mais contida de Balinska, deixando Naomi Scott com uma função delicada de amalgamar a tríade apenas nos créditos finais. Pode ser uma questão de habilidade na direção das atrizes ou de maturidade do próprio roteiro em si, mas um quesito é inquestionável: Banks torna-se mais um nome relevante para extrair de Hollywood a legitimação necessária para contar histórias de uma forma intensamente feminina.

Ficha Técnica

Direção: Elizabeth Banks

Gênero: Ação, Comédia

Duração: 118 minutos

Elenco: Kristen Stewart, Ella Balinska, Eliszabeth Banks, Naomi Scott, Patrick Stewart, Djimon Hounsou, Sam Clafin

Avaliação do Filme

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