Por Luciana Ramos

 

Loretta Sage (Sandra Bullock) é uma romancista de sucesso, tendo criado uma franquia de aventura em lugares exóticos. Porém, desde a morte do seu marido, um arqueólogo que propunha temas e locais, ela perdeu a vontade de escrever. Após muita relutância, Loretta foi persuadida por Beth (Da’ Vine Joy Randolph), sua empresária, a lançar o capítulo final da saga de amor de Lovemore e Dash. Com muito sofrimento, descobriu que a ausência é fatal em termos de redes sociais e, assim, teria que realizar uma ampla turnê para garantir sólidas vendas. Infelizmente para ela, isso incluiria a participação de Alan (Channing Tatum), um modelo que estampou as capas de todos os livros da série com seus falsos cabelos loiros e peitoral descoberto – e, de preferência, em cima de um cavalo.  

O rapaz tenta ser simpático e se mostrar mais do que “um rostinho bonito”, mas Loretta o enxerga com desprezo. Após uma briga, ele percebe que a escritora foi misteriosamente levada em uma van e decide que este é o momento para enfim encarnar o ideal de herói que sempre projetou. Junto a um coach espiritual especializado em resgate (uma ótima participação de Brad Pitt), Alan desembarca em uma ilha remota no meio do Atlântico e descobre que sua chefe foi sequestrada por ninguém menos que o milionário Abigail Fairfax.

Ávido leitor dos romances de Loretta, Fairfax acredita que as obras indicam pistas para uma lendária civilização antiga que permanece oculta desde que foi coberta por lava. O auxílio de Loretta seria necessário para traduzir uma última pista, mas a sua negativa em participar da caçada – e posterior fuga com Alan do cativeiro – estabelece os dois polos distintos da trama: de um lado, um homem rico, maléfico e ambicioso que procura tesouros escondidos para reafirmar o seu valor e aniquila a quem se interpõe no processo; do outro, Loretta e Alan, duas pessoas claramente inaptas à selva que são forçadas a se unir para sobreviver.

Sem constrangimentos, “Cidade Perdida” se propõe ao escapismo leve e abraça a comédia física como principal artefato de humor. Piadas simples e sarcásticas ajudam a preencher as cenas, que giram em torno de um mesmo eixo. Uma vez estabelecido, o conflito não evolui, notando-se uma clara predileção pela repetição de situações até um clímax que combina tiros, explosões e romances. É, sem dúvidas, um modelo mais esvaziado de gêneros anteriores – tanto do screwball comedy quanto da própria aventura – mas sua existência reflete um movimento da indústria de entretenimento, em especial, a americana: investe-se em poucas obras de longo desenvolvimento e, em geral, de apuro estético elevado, enquanto o volume de lançamentos atém-se a tramas simples e o efeito de atração dos atores populares.

O casal principal do longa reflete esse compasso e exprime o que há de melhor na sua persona: Channing Tatum mais uma vez apela para o humor bonachão, debochando do seu sex appeal, enquanto Sandra Bullock explora seus dotes cômicos, tanto na capacidade de fazer piadas com expressões serias quanto na habilidade física, capaz de elevar cenas aparentemente sem graças.

Apesar do talento do casal principal, prevalece a simplicidade de “Cidade Perdida”, sempre um tom acima do necessário e, dessa forma, cometendo o erro fatal de revelar o imenso esforço em tentar tornar o material engraçado. Em contraponto, consegue inserir de maneira eficaz pequenos pontos de discussão no roteiro, como a obsessão por celebridades, a opressão imagética das redes sociais e a excentricidade dos super ricos. Oscilando em qualidade, o filme oferece o pretendido escapismo sem frescor ou sagacidade, atendo-se ao arroz e feijão narrativo.

Ficha Técnica

Ano: 2022

Duração: 1h 52 min

Gênero: ação, aventura, comédia, romance

Direção: Aaron Nee, Adam Nee

Elenco: Sandra Bullock, Channing Tatum, Daniel Radcliffe, Brad Pitt, Da’ Vine Joy Randolph, Oscar Nuñez

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