Por Murillo Trevisan

 

Criado por John Carpenter e Debra Hill, “Halloween – A Noite do Terror” é um clássico de 1978 que praticamente definiu o sub-gênero de Slasher nos cinemas. Apesar de Alfred Hitchcock ter aludido algo próximo em “Psicose” na década de 60, foi Carpenter que deu o pontapé inicial para a infinidade de assassinos seguintes, como os exemplos de: “Sexta-Feira 13” (1980), “A Hora do Pesadelo” (1984), “Brinquedo Assassino” (1988) e “Pânico” (1996).

Para contextualizar, o filme de 1978 conta a história do psicopata Michael Mayers (Nick Castle), que após assassinar sua irmã aos 6 anos de idade é internado em um hospital psiquiátrico. 15 anos mais tarde, ele escapa e volta para a pequena cidade de Haddonfield e, na noite de Halloween começa a fazer vítimas e perseguir a estudante Laurie Strode, interpretada por Jamie Lee Curtis (“Sexta-Feira Muito Louca”), que por coincidência ou não é filha de Janet Leigh, que você deve conhecer pela famosa cena do chuveiro de “Psicose”.

Quarenta anos depois somos presenteados com uma continuação direta dessa história, desconsiderando todas as terríveis sequências que o primeiro longa teve. Em “Halloween” (2018), o tempo real é respeitado, tendo se passado também as quatro décadas após os ataques que Laurie sofreu por Michael Myers na noite de Halloween. Ela seguiu sua vida traumatizada com o fato, mas se preparou intensamente para quando o reencontro acontecer.

 

 

Inicialmente somos realocados ao novo rumo da história a partir dos olhos de Dana Haines (Rhian Rees) e Aaron Korey (Jefferson Hall), dois repórteres investigativos que pesquisam o evento para transformar a história em um Podcast, no modelo do excelente “Serial”. Através de seus apuramentos, descobrimos que Michael ficou preso durante todo esse período sem dizer uma só palavra, enquanto Laurie teve uma vida conturbada sendo prisioneira de suas memórias e, ainda obcecada pelo seu maior inimigo.

A história pessoal dela não é deixada de lado e somos apresentados à sua família, que ganha suma importância na trama. Karen (Judy Greer), a filha da qual perdeu a guarda quando ainda era criança, se mantém afastada da mãe e a culpa por não ter tido uma infância normal. Já a neta Allyson (Andi Matichak) busca proximidade, significada em uma cena que se encontra em sala de aula na mesma posição que Jamie Lee Curtis se encontrava no primeiro filme repetindo o similar gesto de olhar pela janela.

Ao tomar conhecimento de que Michael escapou durante a transferência para outra clínica, Laurie se demonstra preparada para recebê-lo e pôr um fim nessa história, invertendo os papéis de quem seria a caça e o caçador. Essa contraversão em relação ao filme original, enriquece ainda mais a narrativa colocando a mulher em posição de poder ao invés de apenas uma vítima frágil. Essa mudança é muito bem vinda em tempos de movimentos como o #meeto e a firme postura de que predadores não sairão mais impunes.

 

 

David Gordon Green (“O Que te Faz Mais Forte”), que assina a direção e roteiro, faz questão de demonstrar essa evolução de pensamento através das décadas. Outra cena que pode validar o argumento é quando dentro de um carro, um pai tem uma conversa aleatória com seu filho dizendo que vai levá-lo para caçar, enquanto a criança o contradiz afirmando que ele gosta é de dançar, que é isso que “aquece seu coração”. São esses pequenos detalhes que reforçam a necessidade de reviver essa franquia que envelheceu tão mal com o tempo.

A trilha sonora de “Halloween”, composta pelo próprio John Carpenter em parceria com Cody Carpenter e Daniel A. Davies, sempre foi um dos fios condutores para a criação da atmosfera densa desse terror. Ela é um elemento fundamental nesta imersão ao universo de Michael Myers, que aqui se reafirma inserindo sintetizadores para dar uma sonoridade contemporânea, sem perder o impacto para a construção do medo na narrativa.

Além de toda significância, “Halloween” (2018) mantém a essência de um bom slasher movie, não nos poupando na sanguinolência gráfica pela qual somos motivados a conferir. Um filme que tem um embate final digno, mas que pode perder o propósito caso haja uma sequência conforme sugerido nos créditos finais.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 106 min

Gênero: terror, thriller

Direção: David Gordon Green

Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, Nick Castle

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

Veja Também:

Estômago II - O Poderoso Chef

Por Luciana Ramos   Alguns ingredientes foram determinantes para o sucesso de “Estômago” (2008), um filme de baixo orçamento que...

LEIA MAIS

O Dublê

Por Luciana Ramos   Colt Seavers (Ryan Gosling) é um dublê experiente, que se arrisca nas mais diversas manobras –...

LEIA MAIS

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS