Por Luciana Ramos

 

 

Com título um tanto óbvio, “Joy: O Nome do Sucesso” estabelece-se como mais uma produção de Hollywood dedicada a focar em pessoas desprivilegiadas que, apesar dos inúmeros infortúnios da vida, conseguem dar a volta por cima e conquistar o sonho americano.

Neste caso, trata-se da história da invenção de um esfregão. Extremamente absorvente e dotado de uma engenhoca que permite a sua torção sem o contato com as mãos daquele que o utiliza, caiu no gosto popular nos Estados Unidos nos anos 80 e tornou a sua criadora famosa e incrivelmente rica.

 

No entanto, em Hollywood, para vencer na vida deve-se sofrer um pouco. Assim, ao começo do longa Joy (Jennifer Lawrence) encontra-se praticamente falida, vivendo em uma casa caindo aos pedaços com uma mãe alienada (Virginia Madsen) que passa os dias deitada assistindo novela, sua avó (Diane Ladd), um ex-marido (Edgar Ramírez) encostado que mora no seu porão e dois filhos pequenos. Como se não fosse bastante, é obrigada a conviver com uma irmã invejosa (Elisabeth Röhm), um pai (Robert De Niro) que pouco lhe apoia e uma nova madrasta com ares de superioridade (Isabella Rossellini).

Um dia, em uma passagem pouco inspirada do diretor David O. Russell, pega os lápis de cor da sua filha e desenha um esfregão com a certeza que a invenção a tiraria do buraco. Entretanto, para que isso se concretize deve desviar-se dos percalços do caminho: a privação financeira, a interferência familiar e a falta de experiência administrativa.

joy 1

Tramas medianas como essa já ganharam as telonas muitas vezes e, em algumas delas, apareceram renovadas aos espectadores graças a bons diálogos e truques narrativos eficientes. “Joy: O Nome do Sucesso” não segue esse padrão, muito pelo contrário: sofre com uma exuberante falta de criatividade, que culmina em convenientes pontos de virada.

 

Ademais, há uma completa ausência de naturalidade às passagens principais da trama (que parecem todas provocadas por epifanias brilhantes da protagonista) e densidade aos personagens, desenhados de maneira excessivamente maniqueísta. Joy parece ser a única dotada de qualidades boas em meio a horda de sanguessugas que é obrigada a sustentar financeira e emocionalmente.

Aliás, o seu papel de jovem sofredora é reiterado com demasia, o que lhe concede ares de gata borralheira dos anos 80. Diante disso, é impossível não considerar o tamanho da interferência da sua musa inspiradora, Joy Mangano, também produtora-executiva, no resultado final da obra.

A pobreza narrativa é reforçada pela direção de David O. Russell, em claro momento de derrocada criativa. Para começar, ele parece desconhecer a sua trama e assume um tratamento demasiadamente pretensioso logo ao começo, quando dedica o longa “a todas as mulheres corajosas”. Tal homenagem perde-se no fato do filme basear-se na comercialização de um artefato que simboliza a submissão feminina.

 

Não obstante, utiliza a novela norte-americana, forma de entretenimento concebida originalmente para o público feminino (mais especificamente as donas de casa), para dar o tom ao filme. Afim de constantemente lembrar o espectador de tal propósito, são inseridas várias passagens de uma novela fictícia que servem ainda para reiterar a pobreza de espírito da mãe da protagonista. Escolha pouco provocativa ou engraçada, chega a atuar como propulsor dramático: é através da construção de uma metáfora absurdamente ruim em um pesadelo novelesco que a protagonista decide assumir as rédeas da sua vida.

Diante de tantos problemas, nem a atuação de Jennifer Lawrence consegue salvar o filme, visto que o roteiro a força a adotar reações diferentes a cada cena. A instabilidade da heroína frente às adversidades torna impossível para a atriz conceder credibilidade à sua protagonista, embora tenha revelado sua competência artística em outros filmes.

Com narração em off absolutamente desnecessária e tom novelesco, “Joy: O Nome do Sucesso” relata de forma bem parcial o processo de invenção de um esfregão por Joy Mangano, sensação dos canais de televendas norte-americanos. Fraco e forçado, não reflete nem de longe a sagacidade e simpatia de “O Lado bom da vida”, trabalho anterior do diretor que concedeu o Oscar à Jennifer Lawrence.

 

Ficha técnica joy poster


Ano:
 2015

Duração: 124 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: comédia, drama

Elenco: Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Bradley Cooper, Isabella Rossellini

Diretor: David O. Russell

 

 

Trailer:

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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