Por Marina Lordelo
Em Paris, a cidade mais charmosa e burguesa da velha Europa, há um consenso – seus hábitos refinados, suas cores acinzentadas e seu idioma românico sedutor. É desta forma que a diretora e roteirista Amanda Sthers resolve ambientar seu primeiro longa-metragem em língua inglesa, “Madame”, uma espécie de anti-fábula da gata borralheira protagonizada por Rossy de Palma (Maria), a musa hispânica do diretor Pedro Almodóvar.
A realizadora investe em alguns recursos de roteiro para seduzir o espectador, como diálogos que tentam ser despretensiosos ao passo que carregam em suas entrelinhas uma abordagem classista. É inevitável fazer uma leitura política de uma obra (ainda que de comédia) quando esta se propõe a tratar da relação mais exploradora do universo capitalista – o patrão versus o empregado. Há uma história delicada por trás da Maria governanta, cuidadora, apaixonada e desajeitada que é obrigada a participar de um jantar da elite fingindo ser alguém quem não é (e não deseja ser!), e esta abordagem não permite que o espectador se entregue ao riso descomprometido.
E talvez seja nesta falta de sutileza e de habilidade em conduzir uma narrativa mais corajosa que Sthers cometa seus deslizes mais marcantes. Ainda que a direção seja competente no sentido de promover encontros preciosos entre Toni Collette (Anne) e de Palma (Maria), a fotografia de Régis Blondeau se aproxima de uma linguagem mais óbvia no clichê das comédias francesas, com detalhes previsíveis e planos esquecíveis. Repetições estruturais e falta de vigor narrativo são contrapostos às atuações principais, o que reforça a falta de dinamismo entre texto e decupagem.
A montagem é eficiente em conferir o ritmo ágil da comédia e a direção de arte acerta em criar um sistema de cores absolutamente distinto dos tons pastéis da velha cidade francesa. Com uma forte presença de verde e vermelho (uma referência, inclusive, a Almodóvar), a paleta de tons é habilidosa em oferecer uma atmosfera visual suave e ao mesmo tempo pungente, comunicando elementos inconscientes necessários à compreensão da narrativa – os sentimentos de Maria.
Ainda que o roteiro trôpego desanime um espectador mais atento, há uma tentativa em equalizar uma história divertida ao tema contemporâneo da independência afetiva feminina. E é nessa abordagem que de Palma explora as habilidades de sua personagem interessante – humanizando-a e dando a ela alguma dignidade.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 91 min
Gênero: comédia, drama
Diretora: Amanda Sthers
Elenco: Toni Collette, Harvey Keitel, Rossy de Palma
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