Por Luciana Ramos

 

Em tempos turbulentos, as sociedades buscam em seus líderes alguém que lhes ofereça a sensação perdida de segurança. Em 1940, no início da Segunda Guerra Mundial, esse homem não era o comedido Neville Chamberlain (Ronald Pickup), com seus constantes discursos sobre negociação de paz com a Alemanha Nazista.

 

Ao armar sua derrocada, o irascível e irônico Winston Churchill (Gary Oldman) chega ao cargo de Primeiro-Ministro, muito para a desaprovação do Rei George VI (Ben Mendelsohn). Ele é recepcionado com um cenário aterrorizante: a Bélgica e Holanda foram invadidas por Hitler e a França está na iminência de sucumbir. Todo o exército britânico encontra-se ilhado em Calais e Dunquerque e, por isso, ele arma a Operação Dínamo, que tem como objetivo a evacuação de 300.000 homens, algo visto como irrealista por seus ávidos opositores.

 

 

“O Destino de Uma Nação” escolhe ater-se aos treze dias decisivos entre sua posse e a concretização do seu plano, enquanto sofre pressão para firmar um acordo de paz com Hitler via Mussolini afim de preservar seu país, visto que todas as previsões davam como certa a conquista do território pela Alemanha. Esta ideia, no entanto, é enfaticamente repelida por ele por diversas vezes, um misto de teimosia, estratégia e resistência. Cada vez mais acuado, Churchill tem que lutar para ganhar apoio da Câmara e continuar no cargo, além de conceber alternativas viáveis para a manutenção da integridade territorial e moral da nação que governa.

 

Bem concebido em todos os aspectos narrativos e técnicos, o filme de Joe Wright acerta no tom gradual de tensão, suavizado pelas colocações ao mesmo tempo rabugentas e bem-humoradas do seu protagonista. Sem ser excessivamente pedagógico, o filme retrata em detalhes eventos históricos com a romantização esperada, mas sem jamais perder sua qualidade narrativa.

 

Esta é substanciada pelo impecável trabalho técnico. O diretor, conhecido por longos planos-sequência (como o de “Desejo e Reparação”) dissolve esse recurso em seu novo longa, usando uma câmera ágil que traça pequenos movimentos em todas as cenas, concedendo ritmo à obra.

 

A fotografia, por sua vez, trabalha com a escuridão a que o título original se refere (“The Darkest Hour”, ou a hora mais escura, em português), inserindo um único ponto de luz em cada enquadramento e curiosamente deixando o seu protagonista sempre atuando nas sombras. A isso, somam-se planos que confinam Churchill em pequenos espaços, oferecendo a sensação de acuamento e claustrofobia. Um dos exemplos é a cena em que ele discute com o Visconde Halifax e é deixado do lado de fora de uma sala, sendo enquadrado dentro da janela da porta, com tudo ao redor submerso na escuridão.

 

 

 

O cuidado do trabalho artístico é enaltecido pelas excelentes atuações, como a de Lily James, que confere um olhar humanizado à trama no papel da secretária de Churchill, e no de Kristin Scott Thomas, numa performance que equilibra a amorosidade marital com colocações ácidas, servindo como um respiro às passagens mais sombrias.

 

No entanto, o grande mérito do filme é, sem dúvidas, a atuação de Gary Oldman. Neste papel, ele realiza um dos trabalhos mais desafiadores de um ator (e recompensados em premiações, como tem sido o caso com ele): a total transformação em outra pessoa. Por meio de próteses, enchimentos e pesada maquiagem, os traços visuais e trejeitos de Oldman perdem-se totalmente e o que emerge é uma caracterização detalhada e irreparável de Winston Churchill. Nos mínimos detalhes, seja nos resmungos, nos pequenos movimentos ou nos rompantes de raiva, é possível ver a encarnação de um personagem complexo e, por isso, aprofundado.

 

Polêmico e longe de ser unânime, Winston Churchill governou o Reino Unido com pulso firme, sendo inegável a sua contribuição para o desenrolar da Segunda Guerra Mundial. “O Destino de Uma Nação” propõe-se a homenageá-lo através da retratação do seu desempenho nos momentos mais cruciais desse período onde, mesmo acuado e, por vezes, amedrontado, ele não arrefeceu diante do seu dever de defender o povo britânico. Para quem deseja saber mais sobre os eventos descritos no filme, fica a recomendação para (re)ver “Dunkirk”, de Christopher Nolan.

 

Pôster

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2017

Duração: 124 min

Gênero: drama, biografia

Diretor: Joe Wright

Elenco: Gary Oldman, Lily James, Bem Mendelsohn, Kristin Scott Thomas

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

Veja Também:

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS

O Menino e a Garça

Por Luciana Ramos   Aos 83 anos, Hayao Miyazaki retorna da aposentadoria com um dos seus filmes mais pessoais. Resvalando...

LEIA MAIS