Por Murillo Trevisan

Mais conhecida que a Torre do Big Ben, a lenda do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda já foi contada inúmeras vezes nas telonas e em outras diversas mídias. Desde os anos 2000, já estrearam nove longas com a mesma temática e outros tantos que fazem alguma menção aos contos do lendário britânico. Recentemente, o diretor Guy Ritchie lançou o fracasso moderno “Rei Arthur: A Lenda da Espada” (2017), com Charlie Hunnam e Jude Law no elenco, em um esforço de trazer uma linguagem mais frenética da história, que resultou num épico prejuízo para a seu estúdio.

Dessa vez, o conto é trazido para uma Londres atual, onde a Geração Z se faz cada vez mais presente e relevante. “O Menino Que Queria Ser Rei” conta a história de Alex (Louis Ashbourne Serkis), um garoto que mora com sua mãe e encontra por acaso a espada Excalibur, quebrando o encanto ao retirá-la da rocha em meio à uma área em construção. Logo, fica sabendo através do mago Merlin (Angus Imrie/Patrick Stewart) que ele é o sucessor do Rei Arthur e deve impedir os efeitos fatais do retorno da feiticeira Morgana (Rebecca Ferguson) na Terra. Para isso, Alex deve recrutar um grupo de jovens que lhe seja fiel, assim como os Cavaleiros da Távola Redonda.

Sem a megalomania das produções hollywoodianas, o filme concebido por Joe Cornish – conhecido por dirigir a divertida comédia sci-fi “Ataque ao Prédio” (2011) e roteirizar “Homem-Formiga” (2015) ao lado de Edgar Wright – contenta-se em ser uma aventura vespertina despretensiosa, deixando os efeitos plásticos de lado ao priorizar substancialmente a narrativa. O texto se faz eficaz ao abordar assuntos mais amplos como paternidade ou aceitação, argumentos inesperados diante à temática. Porém, os diálogos são reproduzidos de maneira errônea, introduzindo jargões jovens muito caricatos, que estranhamente soam forçados mesmo vindo da boca de crianças. A tentativa de capturar o público infanto-juvenil através de referências à cultura pop também é falha, jogando “palavras ao vento” – como “Chewbacca”, “Star Wars”, “Mario Kart” – ao invés de inserir elementos de subentendimento.

Embora compreensível a necessidade de não colocar como prioridade os efeitos visuais da obra – que podem encarecer bastante a produção a levando ao fracasso como o longa de Guy Ritchie já citado – o gênero de fantasia exige um mínimo de capricho na parte técnica, o que aqui não acontece. São notáveis as ocasiões onde o fundo verde é utilizado destoando altamente os personagens do cenário projetado. As criaturas em computação gráfica também desarmonizam com a paleta escolhida na fotografia do filme, mesmo em ambientes escuros.

Mas nenhum desses deslizes mencionados anteriormente lhe “libertam” mais da imersão do que as medíocres atuações. Com exceção ao Angus Imrie, que tem o privilégio de interpretar o único personagem com algum fundo de peculiaridade, o elenco mirim é completamente sem carisma e talento, sendo infelizmente o protagonista o pior deles. E mesmo com bem pouco tempo de tela, os experientes Patrick Stewart (“Logan”) e Rebecca Ferguson (“Missão: Impossível – Efeito Fallout”) conseguem ser o ponto alto do filme, entregando o básico que lhes é exigido.

“O Menino Que Queria Ser Rei” não passa de um “quase”, um filme maçante que desperdiça uma boa premissa e argumento por conta de uma produção sem obstinação, deixando uma desagradável sensação de déjà-vu.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 117 min

Gênero: Aventura, Família, Fantasia

Diretor: Joe Cornish

Elenco: Rebecca Ferguson, Tom Taylor, Patrick Stewart, Louis Ashbourne Serkis, Angus Imrie

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