Por Murillo Trevisan

 

A década de 80 foi responsável pela criação de muitos ícones da cultura pop que, por questões de um imoderado saudosismo, nos apegamos até hoje. Foi nesse período em que começou a se destacar o fisiculturista pouco talentoso mas muito carismático Arnold Schwarzenegger. Filmes como “Conan, o Bárbaro” (1982), “O Exterminador do Futuro” (1984) e “Comando para Matar” (1985) foram responsáveis por nos afeiçoar a aquela figura inalcançável e querer vê-lo enfrentando qualquer tipo de desafio, até mesmo um alien de dreadlocks que pode ficar invisível.

A mistura da ação brucutu com a mirabolante trama de ficção científica foi de tamanho sucesso que em 1987 filas e filas se formaram para ver Arnold e “O Predador” nas salas de cinema. Um dos fãs declarados desse marco oitentista é o cineasta Shane Black (“Dois Caras Legais”), que tem um grande apego pela franquia, já que, em seu primeiro longa como ator, trabalhou ao lado de Schwarzenegger como um dos mercenários (Hawkins) e foi [SPOILER] a primeira vítima a morrer em tela pelo Predador.

Mais de trinta anos depois, Shane troca o lado da câmera e assume o papel de diretor e roteirista, tendo nas mãos a responsabilidade de dar sobrevida à um personagem que sofreu tanto em suas sequências (“Predador 2”, Alien vs Predador”, “AvP 2” e “Predadores”).

 

 

Em “O Predador” (2018), o atirador de elite Quinn McKenna (Boyd Holbrook) está em uma missão pelas forças armadas quando se depara com a queda de uma nave alienígena. Ao investigá-la, ele encontra alguns componentes da armadura da criatura, que possuem recursos de alta tecnologia. Na intenção de ocultar a informação, ele envia os itens à sua caixa postal, que por engano acabam caindo nas mãos de seu filho Rory (Jacob Tremblay), uma criança autista com intelecto extraordinário. Ao imaginar que aquilo era um novo tipo de vídeo game, o garoto ativa um sistema de rastreio colocando o alienígena atrás dele.

Apesar de uma grande importância na trama, o personagem de Jacob Tremblay (“O Quarto de Jack”) é deixado um pouco de lado. A falta de destaque faz com que o prodígio de Hollywood se utilize de artifícios batidos e caricatos ao interpretar uma criança que sofre de uma condição, tendo resultado em algo parecido com seu último trabalho “Extraordinário”.

O protagonismo mesmo fica por conta de Boyd Holbrook que, depois de ter combatido Pablo Escobar na excelente série “Narcos” e encarado de frente o Wolverine em “Logan”, assume a alcunha de brucutu aos moldes atuais, com a mesma incumbência que teve Schwarzenegger em 87. Seu olhar insano e particular senso de humor nos convence de que veremos brutalidade, física e verbal, em seu tempo de tela.

A propósito, a “insanidade” de McKenna o coloca no caminho de – diga-se de passagem, a melhor coisa do filme – uma tropa de soldados que escapa de um centro de reabilitação para loucos, que se autodenominam “Os Lunáticos”. A equipe composta por Lynch (Alfie Allen), Baxley (Thomas Jane) e os grandes destaques Nebraska Williams (Trevante Rhodes), Coyle (Keegan-Michael Key) e Nettles (Augusto Aguilera) elevam a produção à outro patamar. Os diálogos entre os membros do esquadrão são tão hilários que nos faz questionar se estamos mesmo assistindo à um filme de horror.

 

 

O elenco bem eclético ainda conta com Sterling K. Brown (“This is Us”), que dá vida à um agente do Governo e antagonista, e surpreende ao conseguir não lacrimejar em tela. Olivia Munn (“X-Men: Apocalipse “) e Yvonne Strahovski (“The Handmaid’s Tale”), que apesar do reconhecido talento, aqui também ficam um pouco ofuscadas pelos demais.

Apesar dos excelentes diálogos no nível “Dois Caras Legais”, o roteiro de Shane Black não ousa muito e abusa de referências aos capítulos anteriores, como as armaduras do primeiro e segundo longa expostas no laboratório, a icônica frase “Get to the Choppa!(chopper)” dita por Arnold Schwarzenegger repetida aqui por um membro do esquadrão, ou até nas referências de bastidores, como colocar o ator Jake Busey (“Tropas Estelares”) para interpretar o cientista Keyes, personagem de mesmo nome que seu pai Gary Busey (“Máquina Mortífera”) deu vida no segundo filme.

Apesar da trama pouco envolvente e da falta de capricho nos efeitos visuais, “O Predador” (2018) se sai muito bem no fator diversão, em especial na interação da tropa dos “Lunáticos”, a qual merecia um spin-off só para ela. Não é ousado dizer que é o segundo melhor da franquia: entre as fracassadas continuações de filmes com essas temáticas como “Alien: Covenant” e “Independence Day: O Ressurgimento”, ele é o de maior personalidade.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 107 min

Gênero: ação, aventura, horror

Direção: Shane Black

Elenco: Boyd Holbrook, Trevante Rhodes, Jacob Tremblay, Keegan-Michael Key, Olivia Munn, Sterling K. Brown

 

Trailer:

 

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Avaliação do Filme

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