Por Melissa Vassalli

Em “O Último Lance”, Olavi (Heikki Nousiainen) é um experiente marchand de arte que sempre colocou o seu trabalho acima de tudo, porém não conseguiu acompanhar a modernização do mercado e, vendo sua pequena galeria falir, decide se aposentar. Mas antes de encerrar de vez as atividades, ele espera encontrar uma última chance de fazer um bom negócio. Esse desejo se materializa quando, numa visita à casa de leilões, ele encontra um quadro de um artista desconhecido, ao qual ninguém dá muito valor, mas que ele acredita ser de Ilya Repin, um grande pintor russo.

Paralelamente a isso, o idoso é surpreendido com o pedido de sua filha, com quem ele não fala há anos, para que Otto (Amos Brotherus), seu neto, faça um estágio em sua loja. O jovem, um tanto inconsequente, precisa do trabalho para se formar, mas não conseguiu nenhuma outra oportunidade. Relutante, o avô permite que o menino ajude nos negócios, enquanto ele se dedica à pesquisa sobre a origem do quadro que pretende arrematar.

O filme se sobressai na criação do universo particular do protagonista num belo trabalho de direção de arte. Avesso à tecnologia​, sua casa e galeria são delimitadas por suas paixões, objetos analógicos e métodos arcaicos. Assim que Otto entra na vida dele, o conflito de gerações é imediatamente estabelecido. Enquanto o senhor acumula pilhas de livros e quadros, o jovem acumula latas de Coca-Cola.

“O Último Lance” é um filme conciliador. Como logo se pode imaginar, as diferenças entre o avô e o neto serão superadas quando comprovar a origem do quadro passa a ser um objetivo em comum. Inicialmente, o garoto se preocupa apenas com o lucro que pode obter com essa história, mas aos poucos ele passa a compreender melhor o mundo do avô, onde as coisas são menos imediatas, ao mesmo tempo em que contribui com novas ferramentas que auxiliam no processo, como a internet.

O interesse de Otto e a aproximação entre ele o avô se torna verossímil porque a pesquisa de Olavi é instigante também para nós, espectadores. Cada informação acrescentada, que ora aproxima a descoberta da autoria da obra, ora parece trazer a impossibilidade de sua comprovação, gera um suspense bem construído em relação ao misterioso quadro. A melancólica trilha sonora marca o ritmo do filme e ajuda a expressar a angústia do protagonista.

Em relação ao drama familiar, apesar de Olavi ser constantemente acusado por sua filha e neto de não se preocupar com eles, há apenas uma conversa em que discutem o passado. Importa mais o presente. Quaisquer que sejam os erros do velho comerciante, ele estaria disposto a deixar sua obsessão para trás, para, no final da vida, se dedicar à sua família? Para o diretor Klaus Härö, essa é a questão principal, e da qual depende o entendimento do filme.

Härö realiza uma​ obra sensível, além de fazer um bom estudo sobre o estado da arte na contemporaneidade, através do olhar apaixonado de seu protagonista. Ainda que falte aprofundamento na relação entre alguns personagens, seu final agridoce permite uma boa reflexão. A escolha de Olavi traz uma derrota e uma vitória dentro de si. Se fosse outra, sairia igualmente perdedor e ganhador em algum aspecto. Compreendendo sua insignificância em relação à vida e à arte, o homem se mostra resiliente com seu próprio destino, e, assim, consegue sua redenção, ainda que não da maneira esperada.

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 95 min

Gênero: drama

Diretor: Klaus Härö

Elenco: Heikki Nousiainen, Amos Brotherus, Pirjo Lonka

Trailer:

Galeria:

Avaliação do Filme

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