Por Murillo Trevisan

Revisitar a história em uma obra fictícia de apelo popular é uma tarefa arduamente difícil, pois tende a tornar-se refém de comparativos entre ficção e realidade. Quando o assunto abordado se trata da maior atrocidade humana e genocídio registrado – o holocausto – essa complexidade é elevada à máxima potência, pois envolve uma infinidade de pessoas que o vivenciaram, sofreram e ainda sofrem as consequências.

Infelizmente pouco é falado a respeito do evento de Sobibor, apesar de ser alvo de diversas obras de qualidade – entre elas “Fuga de Sobibor (1987)”, longa britânico dirigido por Jack Gold (“Ases do Espaço”) e vencedor de dois prêmios Globo de Ouro em 1988, que popularizou o feito dos judeus liderados por Alexander Pechersky – e inspirou outros filmes que buscavam o mesmo teor anti-nazista.

Em “Sobibor” (2018), candidato da Rússia ao Oscar de melhor filme estrangeiro na premiação de 2019, o diretor estreante Konstantin Khabenskiy compromete-se a narrar a história de Pechersky (interpretado pelo próprio Khabenskiy), um oficial soviético que organizou o motim no campo de extermínio russo de Sobibór durante a Segunda Guerra Mundial, resultando na fuga em massa dos prisioneiros locais.

Com a proposta de angariar os mesmo votantes que deram a estatueta de “Melhor Filme Estrangeiro” ao húngaro “O Filho de Saul” (2015) no Oscar 2016, o longa russo acentua o realismo dramático dos horrores do holocausto, explorando a miséria dos prisioneiros como seu maior atrativo. Diferentemente do excelente filme citado, aqui as imagens são demasiadamente apelativas – sem uma justificativa relevante para isso – com o objetivo de apenas chocar.

O roteiro dos novatos Michael Edelstein e Anna Tchernakova desperdiça bastante tempo de tela batendo na mesma tecla do sofrimento ao invés de explorar melhor o background da imensidão de personagens que são inseridos mas deixados de lado. O próprio Alexander Pechersky, protagonista do filme e da história na qual é baseada, não recebe a devida atenção em seu desenvolvimento. O uso de um rosto conhecido como o do nova-iorquino Christopher Lambert (“Highlander: O Guerreiro Imortal”) também acaba sendo desperdiçado pela devida falta de cuidado na elaboração do texto. Sobra para ele gritar como um Comandante da SS.

A falta de capricho não se aplica à estética, que utiliza com cautela os tons acinzentados e desbotados (ressaltando a falta de vida naquele ambiente abominável) e que retomam a saturação quando a fuga parece concretizada. O mesmo se aplica à trilha sonora composta por Kuzma Bodrov – gravada pela Orquestra Sinfônica do Estado Russo – que de natureza erudita se contrapõe às atrocidades do nazismo.

“Sobibor” é uma aposta apelativa do cinema russo, que só engata nos vinte minutos finais quando o plano arquitetado é posto em prática. A parte mais interessante de toda a história, que reforça o funcionamento da ideologia nazista, é mostrada apenas no letreiro final, perdendo a oportunidade de abordar este outro lado muito mais interessante.

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 110 min

Gênero: Drama, História, Guerra

Diretor: Konstantin Khabenskiy

Elenco:  Konstantin Khabenskiy, Christopher Lambert, Mariya Kozhevnikova, Michalina Olszanska, Philippe Reinhardt

Avaliação do Filme

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