Por Luciana Ramos

Ao longo de dez anos de sucessivas adaptações de personagens adorados (e alguns desconhecidos) do mundo das HQs, a Marvel construiu um universo cinematográfico respeitável por sua coesão visual e narrativa – decorrente do desenvolvimento de fórmulas – e, mais importante, pela capacidade de saciar o desejo do público por entretenimento de qualidade, sempre tendo o cuidado de instigar a curiosidade por consumir mais produtos do gênero.

“Vingadores: Guerra Infinita” marca, ao mesmo tempo, uma clara comemoração ao marco e uma expansão narrativa natural ou melhor, inevitável, vide o modo como seu conflito tem sido paulatinamente construído ao longo da década. Um início essencialmente explicativo – e necessário – categoriza as joias do infinito, afirmando a sua importância vital no universo. Tamanho poder é almejado por Thanos (Josh Brolin), um ser ao mesmo tempo cruel e idealista que as deseja usar em sua manopla para exterminar metade da população, o que naturalmente o tornaria soberano da parcela sobrevivente.

Sua empreitada cruel e cataclísmica provoca o encontro de diferentes grupos de heróis, como os Vingadores e os Guardiões da Galáxia. Sucessivos embates com membros da Ordem Negra, submissa ao vilão, tornam clara a indispensabilidade da união de forças para tentar derrota-lo. Em pequenos grupos mistos, Steve Rogers (Chris Evans), Homem de Ferro (Robert Downey Jr), Pantera Negra (Chadwick Boseman), Homem-Aranha (Tom Holland), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e outros põem suas vidas em risco afim de salvar o bem maior: a humanidade.

 

 

Conforme citado, o longa dos irmãos Anthony e Joe Russo sintetiza a teia narrativa construída desde o começo do MCU, conectando elementos de obras anteriores, a começar pelo fato de os eventos sucederem diretamente os de “Thor: Ragnarok”, estabelecendo uma ponte temporal importante. Ademais, extrai-se o contexto político de “Capitão América: Guerra Civil” para delinear o posicionamento dos personagens; de “Vingadores: Era de Ultron” tira-se o debate sobre a composição de Visão (Paul Bettany), que possui a joia da mente na sua testa, e do recente “Pantera Negra” a tecnologia de Wakanda, muito superior à usada pelos Vingadores.

Unindo esses elementos em uma amálgama narrativa, formula-se a crescente tensão, que culmina nas esperadas cenas de ação do terceiro ato. Fugindo um pouco da concatenação formulaica, opta-se pela evolução em pequenos blocos independentes, unidos visualmente por uma fotografia mais escura que a usual, extremamente coerente com a proposta da produção.

Trabalhando com a facilidade de já ter delineado bem os personagens principais em longas passados, o roteiro fornece espaço para eles expressarem suas motivações pessoais, movimento refletido no tempo de tela conferido a cada um. Em especial, concede-se maior protagonismo ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), que assume a liderança do seu grupo, algo que pode indicar a relevância de seu papel nos rumos futuros do MCU.

 

 

Esse cuidado narrativo estende-se a Thanos, que ganha profundidade por oferecer concomitantemente comportamento vilanesco e certa dose de humanidade, na sua capacidade de simpatizar com a dor dos outros por refletir a sua. Do mesmo modo, os super-heróis tem suas fragilidades reveladas, seja pela incapacidade física, seja pela impulsividade que atrapalha o andamento dos planejamentos.

As inevitáveis cenas de batalha, quando chegam, não decepcionam. Trabalhando em uma escala muito maior que a de obras anteriores, os diretores apostam no caráter épico do conflito com enquadramentos superabertos, que privilegiam a união grupal, focando na complementação de poderes, o que se mostra uma dinâmica cativante. O contraponto visual é feito pelo vilão, que sabe explorar as características singulares das joias que possue para manipular a batalha, adicionando apelo visual as sequências.

Caminhando na contramão de um conteúdo mais mastigado, comum ao gênero, a configuração final do longa instiga o espectador a entender o cenário e os desdobramentos narrativos do filme por vir, escolha ousada que pode se mostrar interessante ou degringolar na adoção de manipulações narrativas simplificadoras, que tirariam um pouco o brilho do construído em “Vingadores: Guerra Infinita”.

 

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 Ano: 2018

Duração: 149 min

Gênero:  ação, aventura, fantasia

Direção: Anthony e Joe Russo

Elenco: Chris Evans, Josh Brolin, Chadwick Boseman, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Zoe Saldana, Chris Pratt, Robert Downey Jr, Tom Holland, Benedict Cumberbatch, Mark Ruffalo, Karen Gillan, Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Sebastian Stan, Danai Gurira

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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