Por Murillo Trevisan
A saga dos clássicos Vingadores na MCU, talvez a maior responsável pelo crescimento exponencial da cultura Pop no mundo e principalmente no Brasil, chega ao seu aguardado final. O projeto de Kevin Feige – também motivador nas mudanças da indústria, sendo elas benéficas ou não – alcança seu 22º longa, cumprindo os prometidos fechamentos de ciclos.
Lá em 2008, quando “Homem de Ferro” – ainda distribuído pela Paramount Pictures – foi apresentado ao grande público, não se fazia ideia da dimensão que isso tomaria. Na época em que Robert Downey Jr. (Sherlock Holmes) foi sugerido por Jon Favreau (“O Rei Leão”) para assumir a armadura do herói, houve muita desconfiança por conta dos problemas pessoais do ator, mas hoje não se pode imaginar um rosto que se encaixe melhor tanto dentro quanto fora de tela.
Influenciado diretamente pelo sucesso de “Batman Begins (2005)” de Christopher Nolan, o MCU começou sombrio e realista, apontando questões políticas e sociais, e introduzindo um Tony Stark (Downey Jr.) egoísta e sarcástico. Desde então o personagem só veio a evoluir, aprendendo a trabalhar em grupo e assumindo relações, ainda que carregasse um certo rancor dentro de si. O mesmo aconteceu com a própria franquia, que criou novos laços e assumiu o fantástico abrindo mão do total realismo, ainda que as manifestações sociais se fizessem cada vez mais presentes.
Quando o estalar de dedos do Thanos (Josh Brolin) dizimou grande parte dos heróis (e metade da população do mundo) em “Vingadores: Guerra infinita” (2018), o cheiro de fim já estava no ar e o desejo de que eles deixassem de ser “Defensores” e fizessem jus ao nome da equipe estava prestes a se concretizar.
Em “Vingadores: Ultimato”, os heróis têm de lidar diretamente com as consequências da batalha vencida e perda de seus amigos e entes queridos. O filme demonstra em sua própria montagem a iminência disso tudo, uma vez que pré-créditos iniciais um novo arco, propositalmente deixado de lado no filme anterior, é acrescentado. O estado de urgência também é notável na rápida busca por vingança, acreditando que apenas a adição da poderosa Capitão Marvel (Brie Larson) já seria o suficiente.
Muito seguro e bem executado, o roteiro escrito por Christopher Markus (“Capitão América: Guerra Civil”) e Stephen McFeely (“Capitão América: O Primeiro Vingador”) lida muito bem com a resolução de problemas apresentados, assim como traz novos e engenhosos conflitos quando tudo parecia resolvido. A inserção de temáticas complexas são abordadas de formas simples e descomplicadas, carimbando a competência do texto.
Sete anos após a primeira reunião em “Vingadores” (2012), é natural que os atores se sintam bem a vontade e conectados com seus personagens. Todos, sem exceção, são aquelas personas fantasiadas com uniformes, capas e armaduras, sem dar brecha para se desconectar da imersão. Cada Vingador, até mesmo Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) e Clint Barton (Jeremy Renner), que costumam ser deixados em segundo plano, assumem uma responsabilidade enorme na trama.
Vale destacar a importância de Chris Hemsworth (“Maus Momentos no Hotel Royale”) na nova roupagem de Thor. O ator, que sempre teve uma veia cômica, se destacando em comédias ou até em participações especiais no “Saturday Night Live”, tinha um potencial completamente desperdiçado até ser notado pelo ator e diretor neozelandês Taika Waititi (“O que Fazemos nas Sombras”), que fez questão de guiar o Deus nórdico por esse caminho sem volta, chegando aqui ao ápice do humor.
É notável a paixão com que os irmãos Anthony e Joe Russo (“Vingadores: Guerra Infinita”) conduzem esse projeto. Cada detalhe ou diálogo é pensado, fazendo referências ou fechando ciclos apresentados nos primeiros filmes. Por mais utópico que pareça, tudo está conectado com algum capítulo dessa grande saga – a maioria valorizando os dirigidos por eles, mas ainda sim de suma importância.
Mesmo deixando um pouco de lado (por razões óbvias) a Capitã Marvel dessa festa, o empoderamento feminino se faz presente – seja na importância da Viúva Negra para o arco traçado, na liderança da Valquíria com seu povo ou quando as heroínas se reúnem e tomam frente em um determinado ato – mostrando a força de vontade da Marvel Studios em levar isso adiante nas próximas fases, reconhecendo que tem voz com seu fiel público e que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”.
O ato final dessa fase três da MCU transforma tudo em um grande épico e mesmo não tendo a beleza estética de um “Thor: Ragnarok” ou a maestria técnica de “Capitão América: Soldado invernal”, “Vingadores: Ultimato” é uma linda homenagem à todo esse universo deixado para traz, sem medo de seguir em frente.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 181 min
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Direção: Anthony Russo, Joe Russo
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Paul Rudd
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