Por Luciana Ramos

 

“Z: A Cidade Perdida” é a adaptação cinematográfica do livro homônimo de David Grann, que se debruça sobre a vida de Percy Fawcett. No início do século XX, ele devotou-se a comprovar os rumores de que havia uma civilização perdida entre as fronteiras da Bolívia e do Brasil. Oficial de média patente do exército inglês, é convidado pela Academia Real de Geografia a mapear a fronteira dos dois citados países, uma tarefa considerada árdua por ser um ambiente inóspito. Em contraposição, lhe é oferecida a oportunidade de limpar a honra da sua família, posta à prova pelas atitudes do seu pai.

Em sua jornada pela Floresta Amazônica, Percy (Charlie Hunnam) ouve boatos de uma antiga e esquecida civilização com inesgotáveis fontes de ouro, uma espécie de Eldorado. Os rumores despertam nele a obsessão em ser o responsável por desvendar o local, em um misto de esperança por redenção e pretensões egoístas. Tido como louco ao começo, desperta gradualmente o interesse de alguns setores da sociedade e parte em mais duas viagens às profundezas da Amazônia.

 

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James Gray, em seu sexto filme, demonstra rigor estético e, ao mesmo tempo, ineficiência narrativa. Assumindo as duas posições, cai na armadilha de tantas outras adaptações cinematográficas de obras literárias: seu óbvio fascínio pelo objeto o leva a estender a trama mais que o necessário, incluindo pormenores da vida de Percy que simplesmente não são relevantes para a condução do tema. Com isso, torna o filme excessivamente arrastado.

Falha-se, neste sentido, em construir um tema forte, capaz de conduzir a ação dramática e despertar o interesse genuíno pelos desdobramentos da jornada pessoal do herói. Fosse mais pautado na obsessão do protagonista, seria mais atraente. No entanto, suas intenções, ainda que claramente delineadas, permanecem submersas em meio a outras tantas passagens de menor relevância. Não obstante, há a rasa caracterização dos indígenas, nunca mostrados além da visão exótica do colonizador branco. Dessa maneira, exime-se de tecer material reflexivo e, consequentemente, tornar-se relevante.

 

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A óbvia falta de controle narrativo é contraposta ao exímio uso da fotografia para explorar toda a beleza da floresta. Gray abusa da luz natural para construir uma aura de mistério frente ao desconhecido, que desvenda o local aos poucos com os constantes, porém lentos movimentos de câmera. Especialmente, demonstra aguçado senso estético nas transições entre as duas realidades tão diversas (Londres e Amazônia), unidas por conexões sutis como a passagem de um trem.

Transitando entre um filme de aventura e um drama pessoal, “Z: A Cidade Perdida” não consegue atingir a profundidade desejada por esquivar-se da reflexão. As boas atuações de Charlie Hunnam e Robert Pattison e a direção vigorosa de James Gray não são capazes de redimir a falta de ritmo do filme, relegado a ser uma atração mediana. Em mãos mais concisas, poderia ter sido ótimo, dado o seu apelo narrativo.

 

Pôster:

 

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Ficha técnica


Ano:
2017

Duração: 144 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: aventura, ação, biografia

Elenco: Charlie Hunnam, Robert Pattison, Sienna Miller, Tom Holland

Diretor: James Gray

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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