Por Murillo Trevisan

 

Avaliando-se a filmografia de Clint Eastwood, observa-se uma predileção pela construção de narrativas de homens e mulheres comuns que, diante das dificuldades, mostram-se capazes de tolerar a dor ou superar as adversidades por conta da retidão moral que possuem. Recentemente, o diretor avançou no tratamento da temática ao voltar-se para a reconstituição ficcional de personagens reais, sempre envoltos por uma aura heroica.

 

Tal escolha levou a confecção de obras de níveis diferentes, como a problemática “Sniper Americano” e a decente “Sully”. No entanto, o resultado de sua nova incursão na dramatização de eventos reais, “15h17: Trem Para Paris”, fica bem aquém de ambos os filmes, em parte pela escolha de escalar os personagens reais dos fatos para reencená-los dramaticamente, em parte pela construção narrativa em torno dos seus valores republicanos, que simplificam questões importantes como o armamentismo.

 

O filme relata os eventos de 25 de agosto de 2015, quando três homens americanos, Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler, renderam um terrorista a bordo de um trem que viajava de Amsterdã a Paris e, assim, evitaram um atentado de proporções catastróficas. O feito foi, sem dúvida, corajoso, e essa conotação permeia toda a narrativa, que reconta a vida dos três amigos desde a infância.

 

 

Ao mesclar passagens importantes vividas por eles com inserções de momentos no trem, Eastwood estabelece uma relação causal entre eventos. Por isso, alonga-se em sequências desconfortáveis, como a que os meninos brincam com um arsenal de armas de brinquedo, incluindo metralhadoras e fuzis, tidas como fatores determinantes para a aptidão necessária para impedir uma ação terrorista. Conexões rasas e mal elaboradas como essas, quando justapostas, parecem fora de tom, especialmente após mais um massacre em ambiente escolar, ocorrido pouco antes do lançamento da obra.

 

Infelizmente, o roteiro não é o único elemento do filme que deixa a desejar. O método de trabalho de Eastwood, conhecido por filmar rápido e não dar muitas indicações aos atores, mostra-se completamente equivocado nessa produção, já que ele interagia com pessoas destreinadas. Como consequência, nota-se uma movimentação engessada por parte dos três, claro desconforto em frente às câmeras. Isto, por sua vez, chamava a atenção para a falsidade dos discursos e, consequentemente, deixava clara a completa inaptidão de Skarlatos, Sadler e Stone (em especial) para a profissão. De fato, a surpreendente má direção de atores estende-se ao trabalho de veteranas como Jenna Fisher e Judy Greer, que não conseguem passar uma emoção verdadeira à obra.

 

 

Não obstante, o seu característico pragmatismo ocasionou um desfecho com ares amadores. Nele, os rapazes encontram-se com o presidente francês da época, François Hollande. As imagens de arquivo usadas como base foram somadas a uma encenação em que Alek, Anthony e Spencer apareciam contracenando com um figurante, sempre de costas. A obviedade da reconstituição era apenas potencializada quando contraposta as imagens reais, deixando o questionamento sobre a sua inclusão, ao invés de deixar os trechos documentais expressarem a ideia.

 

Erros crassos como esses tornam quase inadmissível a ideia de que se trata de um filme de Clint Eastwood, cineasta laureado e competente, dono de uma carreira sólida em Hollywood. Por conta de uma concatenação de más escolhas, “15h17: Trem Para Paris” não consegue ultrapassar a mediocridade típica de filmes que desperdiçam boas premissas com más execuções.

 

 

 

Pôster

 

 Ficha Técnica:

Ano: 2018

Duração: 94 min

Gênero: drama, história, suspense

Diretor: Clint Eastwood

Elenco: Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Spencer Stone, Judy Greer, Jenna Fischer

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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