Por Luciana Ramos
Com registro seco e realista das condições de extermínio dos judeus em um campo de concentração na Segunda Guerra, “Son of Saul” choca, perturba e emociona com estória sobre um homem que deseja oferecer um enterro digno ao seu filho.
A câmera fora de foco logo encontra o seu protagonista. Saul (Géza Röhrig) guia uma pequena multidão aos galpões fechados de um campo nazista. Lá, força-os a despirem-se e enfrentarem a morte na câmara de gás. Enquanto isso, recolhe os pertences valiosos e os entrega aos nazistas.
Os enquadramentos o acompanha o tempo todo, oscilando entre closes, planos subjetivos e outros feitos a partir das costas do protagonista. Saul é o ponto de vista do espectador e assim permanecerá até o final do filme.
Todo o resto, fragmentos de cena ao redor do seu rosto, exprimem, ainda que fora de foco, o requinte de crueldade a que os judeus eram submetidos nesse período. São corpos nus arrastados aos chãos, depositados como pilhas de lixo. Do outro lado, tem-se judeus obrigados a aniquilar o próprio povo enquanto esperam a sua vez.
Denominando-se constantemente um ausländer (estrangeiro), dada a sua origem húngara, Saul é um judeu designado para trabalhar no Sonderkommando, a serviço dos nazistas. Suas funções giram em torno da coordenação do extermínio, descarga dos corpos (referidos sempre como “peças”) para cremação e limpeza dos galpões cheios de sangue.
Com movimentos mecânicos precisos, ele realiza seu trabalho de forma rápida e eficiente até deparar-se com o corpo de um menino recém-asfixiado, que acredita ser o seu filho.
O seu destino é ser posto em uma montanha com os outros para ser queimado e ter as cinzas despejadas no rio mais próximo. Para Saul, a falta de um enterro digno é a condenação da sua alma e, portanto, ele traça um objetivo claro, definidor de sua jornada: deve achar um rabino entre os presos para dar o Kadish e enterrar a criança propriamente.
Porém, as suas atitudes põem em risco o plano dos demais judeus presos de rebelarem-se contra os nazistas e fugirem enquanto é tempo, o que inicia uma série de conflitos.
“Son of Saul” é impressionante por vários motivos. Primeiramente, pela exposição brutal de um dos episódios mais revoltantes da história. O espectador é posto a frente de uma experiência perturbadora e desumana, sem respiros.
A crueldade dos fragmentos desfocados captados pelo olhar somam-se a capacidade do protagonista em cumprir o seu objetivo, exalando um misto de fé absoluta, senso mínimo de dignidade da vida humana e transposição de limites fisiológicos e impositivos. Tudo o que Saul deseja é a salvação da alma de seu filho, dada a sua incapacidade de protegê-lo em vida. Para isso, não medirá esforços.
A jornada de Saul é a favor da dignidade humana nos estágios finais da vida. Por isso, o filme, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes desse ano provoca merece ser visto.
Ano: 2015
Duração: 107 min
Nacionalidade: Hungria
Gênero: drama, suspense
Elenco: Géza Röhrig
Diretor: Lázló Nemes
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