Por Murillo Trevisan
Algumas obras são difíceis de serem analisadas isoladamente quando se tratam de longas sagas – tendo como exemplo a jornada de Harry Potter – ou até mesmo pequenas trilogias, como é o caso da franquia “Como Treinar o Seu Dragão”. O apego aos personagens e a identificação com todo aquele universo que os envolve é construído pouco a pouco em cada filme, com o tempo – nove anos se passaram desde a estreia do primeiro.
A amizade de Soluço (Jay Baruchel) e Banguela evolui de forma capitular, desde a primeira parte onde se conhecem, a segunda quando se tornaram dependentes um do outro, até o ato final, onde os laços precisam ser rompidos em prol da independência de cada um. A imperfeição de nosso herói (física e emocionalmente), somado ao carisma de seu dragão de estimação, elevam essa animação da DreamWorks à outro patamar.
No último capítulo da franquia, essa relação é colocada à prova quando os vikings de Berk se deparam com um grupo de caçadores liderado pelo implacável Grimmel (F. Murray Abraham), que tem como objetivo exterminar os Fúrias da Noite. O único modo de salvar todas as criaturas é encontrando o mítico “Mundo Escondido”, para que possam abriga-los em segurança.
Surpreendentemente, eles descobrem uma Fúria da Noite fêmea – que nomeiam como “Fúria da Luz” – pela qual Banguela se vê perdidamente apaixonado. A relação entre os dragões leva o personagem à uma jornada de autoconhecimento, entendendo que, embora adaptado à Berk e a convivência com os humanos, a vida pode lhe reservar muito mais e, as incessantes caças à sua espécie coloca em questão se ali é mesmo o seu lugar. Já Soluço se vê novamente com o fardo da responsabilidade, tendo que tomar a decisão mais controversa desde que se tornou líder de seu povo.
Assim como no segundo filme, novamente um homem é colocado como vilão da trama central. Grimmel se mostra um caçador habilidoso e inteligente, de maneira similar ao próprio Loki (da mitologia nórdica), que prega peças induzindo os cavaleiros de Berk a chegarem onde ele quer. Sua obsessão pelo Fúria da Noite o faz travar uma batalha pessoal diretamente com nosso herói. As cenas de ação são desenvolvidas de maneira brilhante, deixando para trás muitas obras em live-action do próprio gênero.
Ao se tratar do CGI e toda questão técnica, embora as figuras humanas possam destoar parcialmente da realidade, as paisagens atingem um nível de perfeição pouco alcançado. Há momentos na projeção – principalmente cenas com água e areia – que você se pergunta se aquilo é mesmo computação gráfica ou filmagens reais. Ainda que se trate de uma animação, é notável o capricho com os enquadramentos (respeitando a regra dos terços e aplicação de ponto focal) e planos elaborados, principalmente quando se trata de vista aérea, o que já é uma virtude em toda a saga.
Dean DeBlois (“Lilo & Stitch”), que dedicou praticamente toda sua carreira como diretor a esses personagens, conclui a jornada dos incomuns amigos de maneira épica. Embora se veja imposto a acrescentar uma cena que remodela levemente o fechamento do 3º ato, nos proporciona muita emoção e satisfação em acompanhar toda essa trajetória.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 104 min
Gênero: Animação, Ação, Aventura
Diretor: Dean DeBlois
Elenco: Gerard Butler, Cate Blanchett, Jonah Hill, Kit Harington, Kristen Wiig, Jay Baruchel
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