Por Murillo Trevisan
As noites na Arábia – e os dias também – ganharam uma nova atenção nessa era de remakes em live-action dos clássicos da Disney. Depois dos sucessos de “Mogli, o Menino Lobo” (2016), “A Bela e a Fera” (2017) e “Dumbo” (2019), chegou a vez de “Aladdin” receber uma repaginada na marcante adaptação do conto das Mil e uma Noites.
A história é a mesma que todos já conhecem muito bem: Aladdin (Mena Massoud) é um jovem humilde que vive nas ruas de Agrabah, fazendo pequenos furtos para se alimentar e sobreviver. Um dia ele conhece a Princesa Jasmine (Naomi Scott) e se apaixona perdidamente. Esse evento acarreta em consequências ao garoto, que se vê obrigado a entrar numa missão de vida ou morte em busca da lâmpada mágica. Assim ele encontra o Gênio (Will Smith), que ao ser libertado da lâmpada o concede três desejos, que são o ponto de partida para toda a aventura.
A incumbência de revisitar a excelente animação de 1992 fica a cargo do experiente Guy Ritchie (“O Agente da U.N.C.L.E.”). O diretor, que já está muito familiarizado em lidar com o submundo urbano – tendo provado seu valor em longas como “Snatch: Porcos e Diamantes” (2000), “Rock’n’Rolla: A Grande Roubada” (2008) e até no controverso “Sherlock Holmes” (2009), onde retrata muito bem o underground Londrino – prova seu valor, mostrando-se a melhor opção para o cargo.
Algumas de suas escolhas geram um certo incômodo visual, como é o caso do uso de fast forward em algumas cenas de perseguição, dando a cara de um filme com humor mais pastelão, usufruindo bastante da essência do cinema Bollywoodiano. Ainda assim, o mise-en-scène é muito agradável, com um cenário artisticamente bem produzido, contribuindo positivamente para as belas coreografias de parkour.
A predileção de trabalhar com um elenco – quase que por completo – com feições árabes é outro acerto da Disney para a adaptação. É muito decente uma empresa desse porte bater no peito e assumir a responsabilidade social que tem. Na animação original, por exemplo, os produtores pediram para que os artistas desenhassem o protagonista com a cara mais de galã, como Tom Cruise (a semelhança é evidente), pois o público não compraria a ideia de que um garoto pobre pudesse ficar com uma princesa tão linda e rica quanto a Jasmine.
Já no longa de 2019, o até então pouco conhecido Mena Massoud (“Jack Ryan”) imprime uma expressão mais sórdida, ressaltando seu carisma em suas atitudes e nas interações com o divertidíssimo macaco Abu. A londrina Naomi Scott (“Power Rangers”), que já tem a carreira um pouco mais consolidada que Mena, capta toda a natureza da princesa, antes interpretada por Linda Larkin (“Noiva em Fuga”), acrescentando uma pitada de empoderamento feminino, sutilmente alocado ao roteiro. A disparidade cai na conta do antagonista Jafar, que perde importância ao substituir a sabedoria do poderoso feiticeiro maligno pelo jovem inócuo Marwan Kenzari (“A Múmia”).
Talvez o maior medo na produção desse remake fosse na escolha da personalidade certa para interpretar o Gênio. O adorado personagem, que só ganhou vida e sucesso graças à “genialidade” de Robin Williams (“Uma Babá Quase Perfeita”), que emprestou sua voz e alma ao poderoso azul. Inclusive, os próprios animadores relatam que o trabalho de Williams foi tão incrível, que eles tiveram que reanimar as cenas para encaixar com a dublagem – feito inédito para a época.
A escolha para o Gênio do filme de 2019 foi a mais respeitosa possível. O astro Will Smith (“Bright”) invocou o Will de “Um Maluco no Pedaço”, imprimindo sua própria identidade, sem querer substituir o intocável trabalho de Williams. Até as músicas ganharam um tom mais próximo ao hip-hop, ritmo em que ele fez muito sucesso nos anos 90/2000. Aqui o personagem assume uma característica mais poderosa, irônica e às vezes até narcisista, se afastando um pouco do tom cartunesco estilo “Máskara” do filme anterior.
A aclamada animação ganhou um remake respeitoso e divertido na medida certa. Embora peque ao querer se aprofundar mais, inserindo mais tramas e algumas cenas bem desnecessárias e cafonas, toda a essência do filme que amamos se faz presente.
Ficha Técnica
Ano: 2019
Duração: 128 min
Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia
Diretor: Guy Ritchie
Elenco: Will Smith, Mena Massoud, Naomi Scott, Marwan Kenzari, Navid Negahban, Nasim Pedrad