Por Murillo Trevisan

Quando um filme apresenta uma temática, gênero ou particularidade que representa o espectador, na maioria das vezes existe uma predisposição para a melhor aceitação, independente de sua grandeza. Se o conteúdo ainda é somado a uma época bastante nostálgica, esse valor se potencializa, provocando ainda mais o emocional. Esse é o caso de “Anos 90”, longa que marca a estreia de Jonah Hill (“Maniac”) na direção.

O roteiro, também escrito pelo prodígio de “Superbad” (2007), carrega uma trama simplista e sem firulas. Stevie (Sunny Suljic) é um pré-adolescente de treze anos que vive em Los Angeles buscando curtir a vida enquanto tenta relevar o relacionamento abusivo com o irmão mais velho Ian (Lucas Hedges). Em plena década de 90, ele descobre a paixão pelo skate e aprende lições das ruas com o seu novo grupo de amigos. Nesse recente estilo de vida, o garoto tenta se provar para ser aceito na nova galera, mas acaba passando dos limites, se envolvendo com álcool, drogas e brigas.

O mais interessante aqui é como essa transição é tratada, sendo de uma forma bem orgânica e natural. A criança deixa à mostra sua inocência, quando de início se submete a prestar favores aos novos amigos, os fazendo com o maior sorriso no rosto, sem se dar conta dos abusos. O entusiasmo e brilho no olhar com que enxerga os colegas desperta o desejo de ser tão descolado como eles, independente das consequências. Na medida que vai ganhando reconhecimento, o poder – mesmo que insignificante – sobe à cabeça e ele não compreende a hora de parar.

Muito se deve ao brilhante trabalho de Sunny Suljic, ator mirim que ficou conhecido por dublar o Atreus – filho de Kratos – no jogo “God of War”. O garoto carrega consigo o olhar inocente de uma criança que está se descobrindo e é bastante convincente quando tenta se fazer de durão, com algumas atitudes patéticas, como todo adolescente faz. Com exceção de Ryder McLaughlin (“Ballers”), que já trabalhou em outros pequenos projetos, a turma dos garotos é composta toda por não atores, amplificando ainda mais a veracidade da obra.

O filme também atesta seu valor quando, ao invés de ambientar apenas a história nos anos 90, ele se coloca como se a própria produção fosse da época. O aspecto de tela 1:1 (quadrado), somado à granulação da imagem, remete de imediato à uma saudosa sensação, como se estivéssemos assistindo a obra diretamente de um VHS. Tal valor também deve ser contabilizado a excelente direção de arte, que insere elementos excepcionalmente comuns naquele tempo, como por exemplo o console “Super Nintendo” ou roupas de cama das “Tartarugas Ninja”.

Jonah Hill, além de um ótimo ator, se prova um excelente diretor ao entregar um filme cheio de vida e coração. Sua condução sabe ser exagerada e caótica no momento certo, ao mesmo tempo em que é capaz de se calar e deixar o espectador contemplar momentos, como a montagem do primeiro skate do protagonista ou a primeira vez em que ele acerta uma manobra.

“Anos 90” pode não funcionar para todo o tipo de público, mas cumpre com êxito ao que se propõe. Um registo simplista e honesto de uma década nostálgica, cheia de malefícios e virtudes.

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 85 min

Gênero: Drama

Diretor: Jonah Hill

Elenco: Sunny Suljic, Katherine Waterston, Lucas Hedges, Na-kel Smith, Olan Prenatt

Avaliação do Filme

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