Por Murillo Trevisan
Quantas vezes a obsessividade compulsiva já não foi retratada no cinema? Não é preciso fazer uma pesquisa muito aprofundada para se lembrar de suspenses notáveis como “Dormindo com o Inimigo” (1991), “Halloween” (1978) ou “Louca Obsessão” (1990). Não há contrariedade em repetir uma temática – mesmo que seja à exaustão – se funcionar para o público. Mas para isso é importante ostentar alguma novidade, desvencilhando do que já fora apresentado até então, o que não é o caso para “Obsessão” (2018).
A trama gira em torno de Frances (Chloë Grace Moretz), uma jovem que se muda para Manhattan após o falecimento da mãe. Depois de encontrar uma bolsa deixada no assento do metrô, a nobreza de “menininha do interior” a leva de encontro à Greta (Isabelle Huppert), uma viúva bem mais velha que ela, com a qual cultivará uma estranha amizade. As duas se tornam melhores amigas, mas as atenções de Greta se mostram muito mais sinistras do que Frances imaginava.
Se há um aspecto a favor do filme é que ele vai direto ao ponto. O roteiro de Ray Wright (“Caso 39”) e Neil Jordan (“Café da Manhã em Plutão”) corta as barrigas narrativas e não enrola muito para entregar o real objetivo de Greta, a colocando prontamente como a desequilibrada que queremos ver. Em contraponto, não há tempo suficiente para a construção da personagem, prontamente a estabelecendo como uma psicopata, sem deixar o gostinho da dúvida ao espectador.
Isso também desfavorece a protagonista, que sem uma grande atuação de Chloë Moretz (“Deixe-me Entrar”) não estabelece uma conexão para que o espectador se importe minimamente com ela, ou ao menos entenda suas motivações. A ex-atriz mirim, que brilhou como a pequena psicopata Hit Girl na franquia “Kick-Ass”, vem se desprovendo cada vez mais do carisma que a fez sobressair.
Já Isabelle Huppert (“Elle”) é um caso à parte. A atriz francesa que fascina em qualquer trabalho, mais uma vez é o ponto alto da obra. Obviamente – sem o devido tratamento por parte da direção e roteiro – não se aproxima minimamente de seus melhores projetos, mas é evidente o distanciamento qualitativo de sua dedicação ao papel do restante do elenco.
Sem saber muito bem o caminho que quer tomar, o novo longa de Neil Jordan – que tem como ponto alto de sua carreira a adaptação de “Entrevista com o Vampiro”, de Anne Rice – se demonstra bastante esquizofrênico. Ele tenta brevemente se aprofundar nas questões psicológicas do transtorno obsessivo, mas abandona a ideia no meio do caminho. Seu roteiro é confuso e desnecessário, inventando plot twists descabidos, que minutos depois serão desfeitos demonstrando claramente o arrependimento de quem os escreveu.
Ao abusar de clichês, “Obsessão” não traz nada de novo para o gênero de suspense, se apoiando apenas em muletas narrativas. Uma história esquecível com um roteiro completamente desequilibrado e descompensado.
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 98 min
Gênero: Drama, Mistério, Suspense
Diretor: Neil Jordan
Elenco: Isabelle Huppert, Chloë Grace Moretz, Maika Monroe, Jane Perry, Jeff Hiller