Por Murillo Trevisan

Uma respeitável obra de zumbis, nunca deve ser sobre os próprios zumbis. As criaturas famintas por cérebros preferencialmente devem servir apenas como pano de fundo para o tratamento das relações interpessoais num mundo pós-apocalíptico, onde a vida humana é rara e os recursos de são escassos. Deixando um cosmo caótico numa sociedade sem leis e normas, onde só os fortes sobrevivem.

Vindo na onda do espetacular “Todo Mundo Quase Morto” (2004) de Edgar Wright, eis que surge “Zumbilândia” (2009) para quebrar um desses paradigmas, metamorfoseando a essência do terror em diversão, colocando um esguio nerd cheios de manias e suas famosas regras de sobrevivência, provando que é possível conviver em grupo sem estabelecer o caos.

Nove anos depois, sua sequência traz de volta o carismático grupo de matadores de zumbis do primeiro filme, agora acompanhando os personagens se restabelecendo em suas vidas pós-apocalípticas. Após um desentendimento entre Columbus (Jesse Eisenberg) e Wichita (Emma Stone) o grupo se separa, fazendo Little Rock (Abigail Breslin) fugir com Berkeley (Avan Jogia), um cara metido à hippie que ela acabou de conhecer. O restante então parte em busca da garota.

Ao longo do caminho, Tallahassee (Woody Harrelson), que até então desprezava a necessidade de relações afetivas, encontra sua cara-metade na poderosa Nevada (Rosario Dawson), que administra um museu em homenagem à Elvis Presley, de quem o personagem de Harrelson é fã. Ao mesmo tempo, Columbus conhece Madison (Zoey Dutch), o típico estereótipo da garota fútil desprovida de inteligência, que acaba rendendo as cenas mais hilárias do filme. Esta nova família improvisada terá que usar todas as suas habilidades e seguir as regras para sobreviverem aos zumbis, que estão ainda mais fortes.

O filme continua na mesma linha de seu antecessor, aproveitando o background apocalíptico para atuar na delicada conexão familiar de pessoas completamente opostas, onde que num típico road movie vão se encontrando e trabalhando o autoconhecimento durante suas jornadas.

Dessa vez Ruben Fleischer (“Venom”) decidiu assumir a comédia de vez e, com a ajuda de Rhett Reese e Paul Wernick (roteiristas de “Deadpool”), nos entrega diálogos altamente cômicos e expositivos, mas sem se deixar cair no ridículo. Às vezes até cai, mas funciona.

Esse propósito também é beneficiado pela escolha de como contar a história. A narração de Eisenberg somada à opção de estética – com direito à uma incrível cena de plano sequência – e pitoresca inserção de lettering na tela, auxilia no entendimento da situação, como se estivéssemos lendo um guia de sobrevivência, nos inserindo ainda mais naquele sombrio e cômico mundo.

Quebrando qualquer expectativa dos que achavam desnecessária essa reunion disfarçada de sequência, “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” é tão bom quanto (ou até superior) o primeiro filme. Divertido, sarcástico, escrachado, debochado e sanguinolento, o filme vale ser visto muito mais que duas vezes.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 99 min

Gênero: Ação, Comédia, Horror

Diretor: Ruben Fleischer

Elenco: Woody Harrelson, Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin, Rosario Dawson, Luke Wilson

Avaliação do Filme

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