Por Luciana Ramos
Adaptar uma obra literária para o universo cinematográfico é sempre uma tarefa delicada. Deve-se ter o cuidado para transpor não só a estória em linhas gerais como os valores nela embutidos. Em seu novo filme de animação, “O Pequeno príncipe”, Mark Osborne realiza essa façanha muito bem ao combinar diferentes técnicas de animação e expandir o universo desse personagem tão famoso.
Para isso, pauta a trama em uma menina que, para entrar em uma escola muito rígida, deve cumprir uma série de tarefas diárias estipuladas pela sua mãe. Esta, solteira e trabalhadora, vê na ascensão acadêmica de sua filha a possibilidade de um futuro promissor. Com isso, sem perceber, acaba fazendo a menina esquecer o significado da infância.
Eis que surge o vizinho delas, um idoso aviador, para relembrá-la do fantástico e inventivo universo infantil. Pouco a pouco, ele envia à menina páginas soltas onde descreve o seu encontro com um pequeno príncipe.
Curiosa, ela decide aprender mais sobre essas aventuras e passa a conviver com o velho. Eventualmente, acaba redescobrindo os prazeres de viver sem regras rígidas. Obviamente, a sua decisão desagrada muito a sua mãe, que tenta impedir essa amizade.
Gradualmente, conforme estes laços se fortificam, o espectador é apresentado às desventuras do instigante príncipe, habitante de um planeta um pouco maior que ele, que tem uma raposa como melhor amiga e uma rosa como amor.
Este universo abusa de cores e tonalidades, em contraponto aos cinzas, pretos e azuis que compõem o mundo dos adultos, sempre ocupados e sendo avisados pelos rádios da cidade sobre ocorrências “muito sérias”.
Por meio desta construção, o diretor aproveita para tecer uma crítica à funcionalidade da sociedade moderna. Para ele, a valorização dos indivíduos é medida pelo que eles conseguem produzir, o que os transforma em uma massa sem cor e liberdade.
O requinte estético de “O Pequeno príncipe” dá-se pelo uso de diferentes técnicas de animação para pontuar cada parte da estória: as folhas soltas mandadas pelo aviador são animadas em 2D, as cenas do príncipe são feitas com exímio em stop-motion, enquanto o resto do filme usa CGI (animação 3D), o que confere textura visual ao longa.
As imagens são pontuadas pela trilha sonora, suave e muito bonita, fruto da parceria de Hans Zimmer com Richard Harvey.
Apesar de tantas qualidades, o longa sofre uma queda narrativa no terceiro ato. Os novos rumos tomados pela protagonista mostram-se desnecessários por destoar do tom do restante da trama, causando quebra de ritmo e consequente alongamento excessivo da estória.
Porém, ainda que contenha problemas, “O Pequeno príncipe” cumpre a sua missão e proporciona uma releitura interessante de um clássico literário. Um filme muito bem feito, capaz de emocionar crianças e adultos.
Ano: 2015
Duração: 108 min
Nacionalidade: França
Gênero: animação, fantasia
Elenco: Rachel McAdams, Marion Cotillard, Benicio Del Toro
Diretor: Mark Osborne
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