Por Luciana Ramos

 

Por décadas, Hollywood lançou diversas comédias românticas que enfatizavam a teoria que a completude da mocinha só seria atingida quando encontrasse o par ideal. Dos filmes das comédias screwball mais antigas aos filmes de Julia Roberts, mulheres eram retratadas como desesperadas para escapar do terrível destino de ficar sozinha.

“Como ser solteira”, baseado no livro homônimo de Liz Tuccillo, representa uma boa inversão desse paradigma. Herdeiro direto de “Sex and the City” (a boa série de televisão, não os filmes péssimos), conclama a solteirice como uma escolha pessoal, por vezes necessária, que é indissociável do processo de autodescobrimento e, portanto, deve ser experimentada ao menos uma vez na vida.

Assim como a série, pinta um retrato de quatro mulheres que tem diferentes visões acerca do fato de ser solteira. A trama foca em Alice (Dakota Johnson), que logo no começo decide acabar um relacionamento de muito tempo para experimentar a vida na cidade e, ademais, reavaliar suas escolhas. Logo, ela vê-se arrastada por Robin (Rebel Wilson), solteira por convicção, a uma sucessão infinita de happy hours e baladas.

Entre um drinque e outro, Alice passa o seu tempo com sua irmã mais velha, Meg (Leslie Mann). Esta é uma mulher que conquistou a independência financeira e profissional mas que agora se vê diante da tentação de ter um filho. Lucy (Alison Brie), obcecada por casar ao ponto de analisar cientificamente seus candidatos completa o time.

13440H2BS.DNG

Sem aspirações maiores do que a de entreter com inteligência, o roteiro de Abby Kohn, Marc Silverstein e Dana Fox acerta o tom ao eximir a trama de julgamentos: todas as escolhas são saudáveis representações das personalidades e amadurecimento dos personagens e, naturalmente, cada uma traz consigo uma dose de acertos e erros.

O mérito estende-se aos personagens masculinos que, ainda que sejam secundários, são bem desenvolvidos e igualmente desprovidos dos cansativos estereótipos de gênero, como o macho alpha ou o garoto supersensível. De fato, a fobia de compromisso de Tom (Anders Holm), amigo de Lucy e Alice, e a dificuldade de David (Damon Wayans Jr.) de se permitir amar adicionam passagens engraçadas e charmosas à trama.

Contudo, o roteiro apresenta suas falhas e cai no clichê e excesso de sentimentalismo em algumas cenas, deslize superado pela abordagem interessante de modo geral.

Como destaque, tem-se ainda a atuação de Dakota Johnson, bem mais à vontade em sua própria pele do que em “Cinquenta Tons de Cinza”. Neste filme, ela explora melhor o seu carisma e transita facilmente entre alegria e melancolia, tristeza e esperança. Ao seu lado, Rebel Wilson exerce de forma convincente o seu papel de alívio cômico, proferindo alguns dos melhores diálogos do longa. Já Leslie Mann consegue imprimir credibilidade à sua Meg, que exala afetuosidade.

Visualmente, o filme mostra-se eficiente, transitando entre a efervescência e a solidão que uma cidade como Nova York é capaz de proporcionar. Soma-se a isso uma boa trilha sonora com predominância de músicas pop.

Por último, cabe dizer que “Como ser Solteira” é um longa voltado primordialmente ao público feminino, não devendo agradar tanto aos homens. Ainda que não seja inovador em conteúdo e forma, trabalha uma dimensão interessante sobre ser solteiro: estar sozinho não remete à frustração e infelicidade mas é considerado um passo importante no processo de compreensão do que se deseja obter de um relacionamento.

 

Ficha técnica  como ser solteira poster


Ano:
 2016

Duração: 110 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: comédia, romance

Elenco: Dakota Johnson, Rebel Wilson, Leslie Mann, Alison Brie

Diretor: Christian Ditter

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

Veja Também:

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS