Por Luciana Ramos
No ano 2000, os irmãos Wayans, de filmes como “Vizinhança do Barulho” e “As Branquelas”, reacenderam a chama da paródia, antes explorada por diretores como Mel Brooks, com “Todo Mundo em Pânico”. Lançado com o objetivo de entreter satirizando os elementos dos filmes de terror, conquistou sucesso mundial e originou diversas continuações e expansão para outras franquias, como “Inatividade Paranormal”, dos mesmos autores. Ao longo dos anos, observou-se a exaustão do subgênero, muito por conta da queda da qualidade das piadas em prol do retorno financeiro fácil em parodiar sucessos de público.
Com “Cinquenta Tons de Preto”, Marlon Wayans, em projeto desenvolvido com Rick Alvarez, consegue dar um novo gás a esse tipo de filme pela premissa de usar o humor para demonstrar a fraqueza narrativa de “Cinquenta Tons de Cinza”. Para isso, apresenta ao espectador exatamente a mesma história do original, chegando a reproduzir enquadramentos com exatidão.
Assim, explorando a superficialidade e o machismo do roteiro do longa a que se refere, Wayans consegue oferecer uma paródia que, mesmo desprovida de excelência, mostra-se muito superior às suas últimas investidas no subgênero.
A reconstituição do romance de E.L. James pode até arrancar muitos risos – em especial nas cenas passadas no “quarto vermelho” – por seu caráter absurdo mas a força dessa comédia satírica pauta-se essencialmente na composição de piadas que abordam o cenário político e social dos Estados Unidos. Referências a personalidades em voga no país, como Donald Trump e Bill Cosby, são citadas como símbolos decadentes da sociedade americana.
Do mesmo modo, o racismo, assunto recorrente nos noticiários do país, é abordado através dos seus personagens principais, afrodescendentes. A acidez de construções como a justificativa da riqueza de Christian Black é mais do que um artefato para fazer rir: trata-se de uma crítica à visão estereotipada dos negros nos Estados Unidos.
Por outro lado, o longa sofre pelo uso de outro tipo de humor, o apelativo. As piadas que exploram a sexualidade do tema, em especial a passagem que satiriza “Magic Mike”, não chocam nem fazem rir, mostrando-se pouco inspiradas. Comuns aos filmes dos irmãos Wayans, aparecem mais espaçadas que em obras anteriores, tornando o filme mais palatável.
Como resultado, há uma obra que transita de forma irregular na arte de entreter. Mesmo com falhas, mostra-se bastante divertido por saber explorar o conteúdo extremamente machista e simplório do filme a que satiriza. Devido à recriação exata de passagens de “Cinquenta Tons de Cinza”, deve agradar mais aos que conhecem os símbolos dessa produção.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 92 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: comédia
Elenco: Marlon Wayans, Kali Hawk, Fred Willard
Diretor: Michael Tiddes
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