Por Luciana Ramos
Passados três anos da sua morte, uma exposição para celebrar o trabalho da fotógrafa de guerra Isabelle Reed (Isabelle Huppert) acaba revirando detalhes do seu trágico acidente e, consequentemente, afetando a vida dos seus familiares mais próximos.
Jonah (Jesse Eisenberg) acaba de ter um filho e larga sua nova família para passar mais tempo com seu pai e irmão, com quem não convive há anos. A discrepância entre as memórias que cada um carrega dela cerceia o relacionamento dos três e adiciona carga emocional ao já delicado convívio entre o filho mais velho e Gene (Gabriel Byrne), o patriarca, devido as diferentes opiniões sobre o adolescente Conrad (Devin Druid).
De caráter introspectivo, beirando o antissocial, o garoto oscila entre o isolamento proposital e explosões raivosas contra seu pai. Este, por sua vez, sem saber como unir novamente a família, peca pela omissão e, por vezes, pela transgressão dos limites individuais dos rapazes. Já Jonah, aparentemente estabelecido na vida, parece não conseguir lidar com a felicidade do nascimento do seu filho, usando a viagem como fuga das suas responsabilidades.
Por meio dos fragmentos cotidianos, revela-se a incapacidade dos três em superar a perda, expressado de diferentes formas. A trama é costurada quebrando livremente cronologia e, por vezes, lógica, já que explora o interior de cada um dos familiares.
Assim, um mesmo fato dá vazão a sequências diferentes, onde a discrepância dos pontos de vista serve para expor novas camadas ao tema. Soma-se a isso narrações em off de diversos personagens, resultando numa cacofonia que adiciona novas peças ao quebra-cabeça emocional.
Bem paulatinamente, a trama costura-se nos retalhos narrativos e linguísticos, que tem como resultado um filme intimista. O diretor Joachim Trier alterna o formalismo da linguagem clássica a cenas em slow-motion lindamente fotografadas, retratos em preto e branco de cenários de guerra, passagens lúdicas de fluxo de pensamentos e sonhos. Tal escolha resulta em um rico trabalho estético, o ponto alto do filme.
Ademais, o longa acerta ao abordar em segundo plano os interesses dilemas emocionais dos profissionais que vivem fotografando situações perigosas e precárias em cenários cuja civilidade foi deixada de lado.
Outro destaque da produção diz respeito às atuações do trio principal. Comedidos em palavras e gestos, Gabriel Byrne, Devin Druid e Jesse Eisenberg trabalham o olhar como ponto de vazão das emoções. Tal abordagem cênica, além de completamente apropriada ao proposto no longa, consegue revelar uma nova faceta de Eisenberg, conhecido pela fala rápida e trejeitos neuróticos que lhe renderam uma indicação ao Oscar por “A Rede Social”.
Sutil e extremamente poético, “Mais Forte que Bombas” expõe um panorama bastante interessante das diferentes representações que a dor da perda pode assumir. Ao mesmo tempo, o filme ainda consegue explorar as complexidades que cada ser humano carrega e podem passar despercebidas em situações costumeiras. No entanto, cabe a observação de que seu caráter extremamente lento o faz ser recomendado primordialmente para fãs de produções com tempos dilatados, sem pressa de apresentar a sua tese.
Ficha técnica
Ano: 2015
Duração: 109 min
Nacionalidade: Noruega, França, Dinamarca
Gênero: drama
Elenco: Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg, Isabelle Huppert, Devin Druid
Diretor: Joachim Trier
Trailer:
Imagens: