Por Luciana Ramos

Transitando entre uma exposição superficial da dor da perda e o desejo de vingança, “Para Minha Amada Morta” entra no rol de filmes brasileiros com boa concepção temática mas terrivelmente falho em sua execução.

Deitado na cama, Fernando (Fernando Alves Pinto) cheira as roupas de sua esposa falecida; não consegue lidar com sua falta. A presença do seu filho, no entanto, o lembra que precisa seguir em frente. Desse processo, entre trabalho e vida doméstica, nasce o peculiar costume de exaltação à amada morta através dos objetos deixados por ela. Entre eles, estão fitas velhas de VHS que registraram seus momentos mais marcantes desde a infância. Todas as noites, Fernando assiste uma, até se deparar com uma revelação em vídeo: a presença de um amante, alguém que, segundo a sua mulher, foi a melhor coisa da sua vida.

 

Possuído por um misto de incredulidade e raiva, ele usa seu acesso nos registros policiais para identificar o sujeito. Decide, então, ir ao seu encontro. No caminho, ficam emprego e filho (quem precisa deles?), assim como a verossimilhança do roteiro. Através de uma Igreja evangélica, Fernando consegue indicação para alugar a casinha dos fundos do terreno do amante (Lourinelson Vladmir). Lá, interage com a sua mulher (Mayana Neiva) e filha (Giuly Biancato) enquanto planeja uma forma de destruir o seu inimigo velado.

para minha amada 1

O desenrolar dos eventos posteriores a partir daí frustram qualquer expectativa do público de ter uma resolução, seja ela qual for. Além do grave e extremamente recorrente problema da conveniência das situações apresentadas, “Para Minha Amada Morta” também sofre com a sua incapacidade de firmar-se como um drama/suspense de qualidade ou adquirir uma aura metafórica que o torne justificável.

Ao contrário, abusa de construções vagas e clichês, como a interação com a adolescente, que arrisca ser mais do que parece mas nem isso consegue. Estas culminam em cenas que flertam com o confronto e possível saciedade do tema, mas são incrivelmente desperdiçadas. Um claro exemplo dá-se na passagem em que Fernando, com um martelo na mão e posição vantajosa em relação ao seu opositor, decide ajudá-lo a remover telhas quebradas.

Em conjunto, representam uma cacofonia narrativa, onde o “quase” é trabalhado à exaustão. As cenas são embebidas por diálogos altamente expositivos e um clímax que deixa muito a desejar. Não obstante, nota-se uma clara confusão na direção dos atores, visto a apatia com que recitam suas falas, além da falta de expressão corporal.

Histórias de intrusos, quando bem contadas, rendem filmes que prendem pela tensão da expectativa de confronto. “Para Minha Amada Morta” frustra essa experiência pela falta de progressão dramática, relegando-se ao patamar de obras que não conseguem cumprir o que prometem. Como se não bastasse, ainda insiste em usar o clichê do simbolismo raso e descartável, uma tentativa vã de conceder ao longa uma aura de filme de arte.

 

Ficha técnica para minha amada  poster


Ano:
 2015

Duração: 113 min

Nacionalidade: Brasil

Gênero: drama

Elenco: Fernando Alves Pinto, Lourinelson Vladmir, Mayana Neiva

Diretor: Aly Muritiba

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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