Por Luciana Ramos

 

Em busca de respostas, Tilly Dunnage (Kate Winslet) volta ao vilarejo remoto de Dungatar, na Austrália. Banida quando criança, deve reconciliar com sua mãe mentalmente instável Molly (Judy Davis) e, acima de tudo, confrontar os habitantes que a odeiam por algo do passado e, por isso, insistem em chama-la de Myrtle, seu nome de batismo.

Seus únicos aliados nesse ambiente inóspito parecem ser o Sargento Farrat (Hugo Weaving) e seu vizinho Teddy (Liam Hemsworth), mas Tilly tem um plano em mente e decide usar seus talentos como costureira para alcança-lo.

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Baseado no livro homônimo de Rosalie Ham, “A vingança Está na Moda” (cujo título original, “The Dressmaker”, faz muito mais sentido) firma-se logo ao início como uma mistura entre  drama e comédia de humor negro, oscilando de forma equilibrada entre os gêneros e muito pautada na diferença extrema entre a protagonista e os demais. Dotada de um temperamento forte e levemente impertinente, choca a todos pelos figurinos – terminologia que se mostra acertada já que ela os usa para desempenhar um papel – extravagantes e maravilhosos.

 

Do outro lado, estão os outros habitantes da cidade que, salvo poucas exceções, mostram-se claramente atrasados, dotados de uma pobreza de estilo e espírito, já que não se acanham em passar os dias fofocando sobre as vidas alheias e tecer comentários maldosos. Nesse contexto, são apresentados visualmente os tipos literários do romance, personificados por detalhes curiosos: o médico corcunda, a mãe louca, a caipira que descobre o poder das roupas, o xerife com apurado senso estético. Interligados ao arco dramático da protagonista, a exposição desses personagens concede ritmo ao filme, fazendo-o passar rapidamente diante dos olhos do público.

À medida em que a trama avança e as esperanças de redenção da protagonista diminuem, a história surpreende por tomar um novo rumo, mais absurdo, ácido e absolutamente satisfatório. Por meio de Tilly, o espectador experimenta a satisfação de observar alguém disposta a cruzar limites morais para satisfazer seus desejos mais reprimidos.

 

A esse roteiro que brinca com as expectativas o tempo todo soma-se uma fotografia competente, que guia o olhar ao contrapor planos bem fechados à panorâmicas e planos de conjunto, sempre enquadrados expondo mais de um objeto ou personagem em cena.

Além disso, sabe explorar bem uma rica gama de cores: aos tons terrosos e sem vida da cidade contrapõem-se as criações de Tilly, de cores berrantes que aos poucos vão cobrindo o ambiente, símbolo do seu poder transformador. Em passagens de flashback, são explorados tons sépia lindamente fotografados, que contribuem para a riqueza visual.

Os figurinos também são por si só um grande atrativo pelo seu exagero e beleza, pontuando visualmente a função da roupa como elemento que representa a identidade pessoal assim como o status social.

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Cabe ainda destacar a sintonia e competência do elenco como um todo, com destaques para Kate Winslet, Judy Davis e Hugo Weaving. Winslet brilha por saber exercer sua habilidade de dominar as cenas, sempre sobrepujando a sua presença às dos demais, como o papel requer. Seu talento é reforçado pela interação com a maravilhosa Judy Davis no papel de sua mãe, que dá um show de atuação pela entonação de cada palavra proferida, um deleite de se observar. Já Weaving, consegue estabelecer em suas poucas aparições um vínculo afetuoso com o público pela forma espirituosa com que compõe seu personagem. Não obstante, há todo o carisma do galã Liam Hemsworth, bastante eficiente em seu papel.

Com orçamento relativamente baixo para os moldes de Hollywood e pouca complexidade logística (dada a limitação do ambiente em que se passa a ação), “A Vingança Está na Moda” é um belo exemplo de que um ótimo filme se dá pelo esmero, tanto narrativo quanto visual. Vale a pena investir em uma boa história e nos elementos estéticos que a sustentam. Com estes devidamente alinhados, surge um produto que certamente atingirá o seu objetivo.

Neste caso, trata-se de uma mistura entre drama e comédia pouco convencional, inteligente e um tanto ácida que entretém na medida certa. Por conseguinte, é indicada não só para os interessados em moda, mas para todos aqueles que gostam do gênero.

 

Ficha técnica dressmaker poster


Ano:
 2015

Duração: 118 min

Nacionalidade: Austrália

Gênero: comédia, drama

Elenco: Kate Winslet, Liam Hemsworth, Judy Davis, Hugo Weaving

Diretor: Jocelyn Moorhouse

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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