Vários são os motivos possíveis para a paixão de Hollywood pela realização de sequências. Novas formas de consumir cinema (vide o streaming), intrinsecamente relacionadas ao pelo aparente desinteresse em pagar um ingresso e obter a experiência nas salas escuras, podem ser apontados como fatores. O resultado desse processo reside na estratégia do uso da nostalgia como ferramenta de atração do público para consumir filmes que, em boa parte, revelam-se absolutamente descartáveis.
“Independence Day: O Ressurgimento” aparece como parte desse fenômeno. Vinte anos após o lançamento do seu original, surge uma sequência que ninguém de fato pediu, mas apela ao saudosismo para entretenimento dos fãs mais aguerridos, assim como novos espectadores que atraiam-se pelo apelo universal inerente a um filme de destruição em massa.
Assim, sem o compromisso de oferecer nada de novo ou além das expectativas do seu antecessor, o longa começa recapitulando brevemente os acontecimentos anteriores. Desde o último ataque, em 1996, a humanidade pôde evoluir seu esquema de segurança, fazendo uso da tecnologia alienígena restante do embate, mas esta revela-se frágil logo ao começo, com a aproximação de uma nova raça da Terra.
Escolhas equivocadas deflagram uma nova guerra entre humanos e alienígenas e os expoentes do primeiro ataque são chamados para bolarem junto a novos especialistas possíveis planos para conter a destruição do planeta. O conhecimento profundo de David Levinson (Jeff Goldblum), Dr. Brackish Okum (Brent Spiner) e do ex-presidente Thomas Whitmore (Bill Pullman) soma-se aos esforços de guerra da sua filha, Patricia Whitmore (Maika Monroe) e dos pilotos Jake Morrison (Liam Hemsworth) e Dylan Hiller (Jessie T. Usher), filho do falecido Steven Hiller (Will Smith).
Neste sentido, torna-se igualmente urgente a decodificação de símbolos estranhos desenhados de forma recorrente por sobreviventes da primeira guerra. Quando expostos aos alienígenas, estes desenvolveram uma conexão que os torna capazes de interceptar alguns de seus sinais. O trabalho é comandado pela doutora Catherine Marceaux (Charlotte Gainsbourg), que analisa os códigos como forma de obtenção de vantagem estratégica.
De forma absolutamente previsível, o longa estabelece o seu conflito e trabalha gradualmente na sua ascensão através da adoção de vários pontos de vistas, apelando sem dó para estabelecer a conexão emocional necessária, inclusive pelo uso de criancinhas inocentes no caminho. Conduzindo o espectador a uma atmosfera de suspense e inevitabilidade por meio do abuso de efeitos especiais, demora a mostrar os alienígenas de fato, o que se revela uma decisão inteligente.
Porém, perde-se completamente em escolhas pouco críveis de construção de personagens e suas participações na iminente tragédia. Como exemplo há a “volta” do Dr. Okum, que acorda de um coma de vinte anos com mais disposição e sagacidade mental que qualquer reles mortal demonstra momentos após levantar da cama. O tratamento da questão é absolutamente ridículo e peca pela falta de realismo, assim como uma passagem envolvendo o pai de David Levinson, Julius (Judd Hirsch).
Falhas dessa natureza pontuam toda a trama, diversas vezes pondo o espectador no papel questionador que o desprende da absorção completa. São personagens que desviam do plano por razões pessoais, passagens que carecem de sentido e o pouco espaço para a emoção no decorrer dos eventos. Este último aspecto mostra-se importante pois pontua as mortes ao longo do filme: dada a urgência da ação, os personagens que perdem entes queridos parecem não se importar muito com o acontecimento, deixando-o rapidamente de lado em prol do bem maior.
Há ainda o problema de abordagem, que não só coloca os Estados Unidos no centro da problemática – como esperado – mas relega outras nações ao papel de meros espectadores. Em mais de uma vez, árabes são mostrados assistindo pela televisão as decisões da presidente Lanford (Sela Ward), o que não deixa de ser um tanto ridículo. O humor é outro ato falho, sendo inserido em passagens essenciais como forma de contrabalançar a tensão, mas que nem sempre funciona.
Entretanto, mesmo dotado de fraqueza estrutural, cabe ressaltar que o longa de Roland Emmerich consegue cumprir seu objetivo de entreter o espectador na sua forma mais pura (e absurda) pois consegue prender a sua atenção o bastante para que este embarque na experiência proposta. Com o investimento na humanidade dos dramas familiares, o filme cresce e mostra-se capaz de oferecer alguns bons momentos, ainda que muito aquém de conseguir suprimir suas dificuldades.
Ao final, “Independence Day: O Ressurgimento” mostra-se falho e um tanto absurdo, mas a sua qualidade pouco importa: o seu objetivo é o consumo rápido e de massa. Com a mesma rapidez que será mastigado também será esquecido, até que o próximo longa derivado (já indicado na cena final) seja lançado nos cinemas para nova apreciação.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 120 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: ação, aventura, ficção científica
Elenco: Liam Hemsworth, Bill Pullman, Jeff Goldblum, Charlotte Gainsbourg
Diretor: Roland Emmerich
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