Por Luciana Ramos

 

“Esquadrão Suicida” surge em meio a um processo de reestruturação da Warner Bros., desembocado por desapontamentos nas bilheterias mundiais e críticas expressivas aos seus mais recentes lançamentos. Fruto da parceira do estúdio com a DC Comics, carrega a responsabilidade de ser um dos longas mais esperados do ano. Em meio a uma campanha de marketing massiva e a inevitabilidade de boatos de bastidores, o filme sucumbe por não conseguir entregar totalmente o que prometeu, ainda que ofereça bons momentos.

A trama foca na intenção da agente Amanda Waller (Viola Davis) em utilizar as habilidades especiais dos piores vilões já capturados para combater o crime. O absurdo da proposta é suavizado pela possível ameaça de outros meta-humanos e o uso de nanotecnologia para controlar estes indivíduos.

Cada avanço na tentativa de convencer seus superiores em liderar a força-tarefa X é marcado por um flashback onde são apresentados os integrantes do esquadrão. As peculiaridades destes são pontuadas com efeitos gráficos coloridos, montagem rápida e música pop, que atuam como leitmotivs (temas sonoros de cada personagem), construindo uma expectativa de abordagem moderna do tema.

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O desenrolar natural da história frustra esta primeira impressão, já que tais instrumentos são gradualmente substituídos por maior formalismo narrativo e visual, com exceção da trilha sonora, trabalhada de forma coesa até os últimos momentos.

Como esperado, as características vilanescas são suavizadas com o propósito de promover maior empatia por parte do público, decisão que afasta maniqueísmos e, consequentemente, promove maior aprofundamento narrativo. Apesar de configurar-se como filme de equipe em primeira instância, há uma clara distinção dos personagens Amanda Waller, Rick Flag (Joel Kinnaman), Arlequina (Margot Robbie) e Pistoleiro (Will Smith) em relação aos demais, fato observado não só por um maior espaço de tela como também por serem os responsáveis em impulsionar a ação. À escolha, os atores respondem com firmeza nas caracterizações e bom desempenho nas passagens mais dramáticas.

 

A utilização do Coringa (Jared Leto), por sua vez, provoca resultados dúbios, já que atua como um serviço aos fãs necessário devido ao seu peso no universo da DC e ajuda a contextualizar o passado de Arlequina, mas destoa demais da trama principal. Suas aparições digressivas ajudam a alterar o ritmo e enfraquecem o equilíbrio da história. O pouco espaço de tela concebido a Jared Leto é muito bem aproveitado pelo fato do ator focar sua atuação nas características sociopatas do vilão, enaltecendo seus exageros e conseguindo distanciar-se de interpretações passadas.

esquadrao suicida 2

O mencionado problema de inserção narrativa não ocorre com as cenas envolvendo o Batman e outro personagem do universo da DC. Bem justificadas e rápidas, ajudam a conectar o universo cinematográfico sem adicionar mais uma subtrama desnecessária.

 

David Ayer, diretor do longa, consegue impor seu estilo ao favorecer o uso de uma variedade de enquadramentos fixos, unidos por montagem didática e orgânica. A estes somam-se movimentações de câmera, sempre atreladas às passagens de ação, como característico de trabalhos anteriores, a exemplo de “Corações de Ferro”. A paleta de cores segue a unidade visual dos filmes da DC, favorecendo tons escuros como cinza e marrom, contrastados por pequenos aparecimentos de outros mais vibrantes, como o vermelho do uniforme da Katana ou o colorido do cabelo da Arlequina. Ao contrário de produções passadas, a falta de um uso mais expressivo das cores é sentido, tendo em vista o tom mais leve desse filme. O contraste da plasticidade dos verdes e roxos que pintam a tela ao início em relação ao tom quase monocromático do final exagera essa frustração estética.

Ainda assim, a falta de apelo visual não é o maior problema; este consente à construção narrativa, ao qual toda a harmonia sucumbe. O humor inserido para aliviar as passagens dramáticas funciona ocasionalmente e, em algumas cenas, parece pouco integrado ao contexto. Além das já citadas digressões, há o abuso de cenas preparatórias que pouco adicionam, servindo como “gorduras”. Dois exemplos são os momentos em que os integrantes do esquadrão aguardam Katana na porta do metrô ou decidem ir a um bar.

 

Interessantes isoladamente, estas contribuem para uma oscilação de ritmo importante que prejudica a experiência como um todo. Maior ponto negativo, é também reflexo do equívoco de David Ayer, o que o impediu de transformar “Esquadrão Suicida” em um ótimo filme: a escolha de elementos que atuam dubiamente – como tais passagens, a utilização de flashbacks e já citada aparição do Coringa – cuja apreciação é extremamente reduzida por serem mal trabalhados no arco dramático. Como resultado, são criadas dissonâncias indesejadas que cansam o espectador.

A resultante falta de harmonia provoca frustração, sentimento exacerbado dada a potencialidade dos personagens. Mesmo com estas falhas, cabe ressaltar que o longa consegue agradar em alguns momentos e possui uma coesão maior do que a produção anterior da parceria entre Warner Bros. e DC Comics, “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça”. Ainda assim, não consegue oferecer passagens marcantes e dificilmente perdurará à passagem do tempo.

 

Ficha técnica esquadrao suicida poster


Ano:
 2016

Duração:  

Nacionalidade: EUA

Gênero: ação, aventura, comédia

Elenco: Will Smith, Viola Davis, Margot Robbie, Jared Leto, Joel Kinnaman, Cara Delevigne

Diretor: David Ayer

 

Trailer:

 

https://youtu.be/30tU57q842Y

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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