Por Luciana Ramos

Após doze anos, Louis (Gaspard Ulliel) está de volta à sua família. De volta para contar que vai morrer e, nos breves momentos juntos, talvez aparar arestas do passado. Sua visita é recebida com imensa antecipação – e certo nervosismo – por sua mãe (Nathalie Byer), irmão (Vincent Cassell), irmã (Léa Seydoux), cunhada (Marion Cotillard). Sua presença na sala de estar da casa onde os aperitivos são servidos denotam a aflição de ter um estranho em um espaço tão familiar.

 

Louis, apesar do sangue em comum, não faz mais parte daquela família, não os reconhece como seus. Cada um lida com sua presença de maneira diferente: a ansiedade de Suzanne em agradar alguém de quem formou uma concepção idealizada, visto que mal conheceu; a civilidade acolhedora de Catherine, que se põe como mediadora da conversa; o rancor mal protegido de Antoine.

Dividido em quatro etapas de um jantar – aperitivos, jantar, café e sobremesa – a trama explora pelas entrelinhas as rusgas que os mantem tão distantes e, ainda assim, presos na mesma bolha, fornecendo espaço para o acerto de contas entre o protagonista e cada membro familiar.

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As respostas impacientes denotam a inabilidade geral de comunicação: os gritos são uma demosntração da surdez absoluta, que ignora as sutilezas demonstradas com os olhares. Estes sim revelam a real intenção do diretor: trata-se de um filme que abusa de closes, revelando pedaços de olhos, perfis, bocas. Servem como contraponto dos diálogos e, ao mesmo tempo, expõem camadas mais profundas de interpretação da relação estabelecida. É o caso da personagem de Marion Cotillard, a mais passiva da mesa, mas também mais perceptiva, que consegue captar o ambiente e os segredos velados de cada um, ao qual responde com um misto de compaixão e melaconlia.

 

Há um moderno trabalho estético que se soma a esse jogo, incluindo músicas dançantes dos anos 90, cortes rápidos que unem ângulos ligeiramente diferentes em assim, além de passagens em flashback. As cacofonias ligadas ao diretor, o garoto-prodígio Xavier Dolan, denotam apenas sua veia de autor e, mesmo que assumam um tom acima em poucas passagens, jamais prejudicam o material como um todo.

De estritamente descartável, tem-se somente uma passagem envolvendo uma dança que beira a artificialidade. De resto, mesmo no confronto excessivo entre Louis e Antoine, encontra-se uma razão dramática: a reiteração de que o mais importante é o que não é gritado, mas o que luta para submergir.

Assim, diálogos mais superficiais e excessivamente explanatórios podem ser sublimados em prol da mensagem do filme, coroada ao final com um profundo olhar de Catherine para Louis. “É Apenas o Fim do Mundo” comove pela sensibilidade com que se dispõe a tratar o seu tema e não deve deixar nenhum espectador indiferente ao mostrado em tela.

 

Ficha técnica é apenas poster


Ano:
 2016

Duração: 97 min

Nacionalidade: Canadá, França

Gênero: drama

Elenco: Marion Cotillard, Gaspard Ulliel, Léa Seydoux, Vincent Cassell

Diretor: Xavier Dolan

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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