Por Luciana Ramos
Em 2000, o filme dos X-Men concebido por Bryan Singer renovou um subgênero que sucumbia pela falta de visão comercial e artística e, assim, pavimentou o caminho de sucesso dos filmes de super-heróis que, com a fórmula aperfeiçoada, continuam em voga até hoje. Dezessete anos depois, o projeto de James Mangold afasta-se do espetáculo característico para explorar um lado mais humano de um dos mutantes mais adorados pelo público.
A trama desenrola-se em 2029, onde um Logan (Hugh Jackman) velho há muito abandonou seus dias como Wolverine e agora sofre as consequências corporais das décadas de batalhas, auxiliadas pelo decréscimo do seu fator de cura. Trabalhando como um motorista de limusine, vive seus dias escondendo-se na fronteira mexicana. Coube a si a tarefa de cuidar de um Charles Xavier (Patrick Stewart) nonagenário que, devido a deterioração mental, agora é considerado pelas autoridades uma potencial arma de destruição em massa.
O contato desesperado de uma desconhecida leva-o a conhecer uma jovem mutante, Laura (Dafne Keen). O fato dessa espécie estar em extinção a torna alvo de extermínio dos carniceiros, o que leva Logan a assumir a missão de protegê-la e conduzi-la a um lugar seguro. Relutantemente, coloca-se na condição de provedor de uma “família”, algo que sempre renegou. A experiência, calcada na dor proveniente da violência, o leva a rever a sua humanidade e, em especial, sua conduta para com os que o rodeia.
Dissolvendo as cenas de ação em uma narrativa que usa a estética como metáfora da condição dos seus personagens numa espécie de road movie distorcido, a concepção de “Logan” foi sem sobra de dúvida um alto risco por parte da Fox, dada a disparidade em relação a todo o universo criado até então.
Sombrio, violento e reflexivo, coloca um mutante em patamar fragilizado. Mais lento que usual, pauta-se essencialmente no roteiro e concebe as cenas de embate como reações de defesa e sobrevivência. Sendo assim, possui um tom claramente mais realista.
A construção narrativa permite-se em momentos afastar-se da ação dramática principal para descrever situações aparentemente desconexas – como a cena do jantar ou a que Xavier comenta sobre o filme “Os Brutos Também Amam” para Laura – mas estas, uma vez sobrepostas à jornada, revelam-se fundamentais para o entendimento do tema, bem mais aprofundado que o usual. Por sua vez, a inclusão de uma cena em que Logan encontra um antigo quadrinho dos X-Men termina de pavimentar o afastamento deste longa dos anteriores, estabelecendo de forma clara a dissonância sentida pelo espectador.
O elenco é, sem duvida, um dos grandes atributos do filme. Amplamente dependente das expressões de seus atores, encontra em Hugh Jackman uma interpretação complexa, que consegue mesclar as feições bestiais de Wolverine com a desilusão estampada no rosto de um homem que não encontra mais razões para lutar. Patrick Stewart brilha ao mostrar pequenas fagulhas de genialidade e generosidade presas na mente divagante de Xavier.
O grande destaque, no entanto, é a desconhecida Dafne Keen, que atua com o silêncio por grande parte da produção. Depende, portanto, das expressões faciais como ferramenta e consegue construir uma personagem dotada de complexidade.
“Logan” encerra com uma ótima referência ao já citado “Os Brutos Também Amam”, deslocando mais uma vez sua narrativa ao campo metafórico e, assim, realçando sua profundidade temática. A despedida de Hugh Jackman no papel de Wolverine não poderia ter sido melhor.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 137 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: ação, drama, ficção científica
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Hollbrook
Diretor: James Mangold
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