Por Luciana Ramos
A existência de vida fora da Terra é palco de extrema ansiedade dos seres humanos desde sempre. Suas capacidades de abstração e pensamento crítico, aliado a descobertas espaciais, o levam a considerar a solidão diante da complexidade do funcionamento das galáxias, o que se reproduz em consistentes buscas por vida em outros planetas.
“Vida”, de Daniel Espinosa, explora essa inquietude através da descoberta de uma única célula no solo de Marte, devidamente capturada e posta para análise no laboratório de uma missão espacial. Deslumbrados, seis cientistas, interpretados por Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Hiroyuki Sanada, Ariyon Bakare e Olga Dihovichnaya, celebram este como um novo passo para a humanidade e até batizam o organismo de “Calvin”. Sua complexidade notável e rápido crescimento provocam ao mesmo tempo fascínio e assombro.
O entusiasmo não dura muito tempo, já que o desenvolvimento deste ser pressupõe a extinção das pessoas presentes naquela estação espacial, visto que ambos competem pelos mesmos recursos de sobrevivência. Traça-se então um jogo pela vida, enaltecido pelas cenas de ação que levam os espectadores a torcer pelo sucesso dos participantes.
O tom de disputa mostra-se o cerne da trama, que se abstém de maiores questionamentos filosóficos ou ponderações sobre as implicações do tema. Construído como veículo de entretenimento, o longa oferece as doses de suspense requeridas e, dessa forma, cumpre seu papel.
Como uma colcha de retalhos, utiliza recursos narrativos de uma série de produções anteriores que já exploraram o tema, sem afastar-se dos clichês. Ainda que pareça familiar, no entanto, a trama oferece uma interessante perspectiva sobre o assunto: o instinto de sobrevivência de toda uma espécie, que vai além dos seis participantes diretamente envolvidos com o ser ameaçador. Estes personagens, por sua vez, recebem apenas o desenvolvimento necessário para torna-los empáticos e, assim, alvos de calorosa torcida do espectador.
A narrativa costura-se em torno de uma cenografia eficiente, aliada a movimentos de câmera que exploram as funcionalidades do ambiente, em especial a falta de gravidade. O filme de Espinosa não atinge o esmero visual de produções como “Gravidade”, mas mostra-se bastante competente no nível de detalhamento com que constrói o arcabouço visual, o que auxilia na imersão na história.
Sem propor-se a questionamentos aprofundados sobre a existência de vida em outros planetas, “Vida” entrega a sua promessa de entretenimento em um roteiro que cativa e consegue provocar as emoções desejadas. Muito bem executado, é um bom filme do gênero, ainda que bastante distante do panteão da ficção científica.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 104 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: ficção científica, suspense
Elenco: Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson, Hiroyuki Sanada, Ariyon Bakare, Olga Dihovichnaya
Diretor: Daniel Espinosa
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