Por Luciana Ramos
A mulher obsessiva e louca sempre foi um prato cheio para Hollywood. Uma certa predileção pelo retrato do sexo feminino em cores não tão bonitas descende de filmes como “Amar Foi Minha Ruína”, em que os ciúmes transfiguraram-se em assassinatos.
No caminho frutífero dos anos 80, que deu origem a personificações vilanescas em filmes como “A Mão que Balança o Berço” e “Instinto Selvagem”, a figura da mulher que transforma a rejeição em pura psicopatia encontrou em Glenn Close uma rainha para o subgênero como o famoso “Atração Fatal”.
Dessa linhagem, descende diretamente a personagem Tessa (Katherine Heigl), de “Paixão Obsessiva”. Claramente incapaz de superar a rejeição do seu ex-marido, ela transforma sua necessidade de controle em um arquitetado plano de vingança envolvendo Julia (Rosario Dawson), nova mulher de David (Geoff Stults).
Esta, por sua vez, luta não só com a adaptação em um novo ambiente mas com a superação de um passado violento, que mantém em segredo. Procurando estabelecer laços com Lily (Isabella Kai Rice), filha do seu noivo, ao mesmo tempo que equilibra com paciência as constantes interferências de Tessa, Julia revela-se hesitante. Assombrada por pequenos incidentes, ela logo descobre o potencial perigo representado pela ex e o embate entre as duas toma proporções inimagináveis.
“Paixão Obsessiva” não esconde sua intenção: desde a música alta e estridente que pontua cenas marcantes à caracterização de Tessa como uma espécie de Barbie psicótica – completamente obcecada por ter todos os fios de cabelo no lugar e a louça brilhando – a trama apresenta-se como uma batalha entre duas mulheres, uma boa e uma má, pelo amor de um homem.
Dessa forma, o filme propositalmente esquiva-se de maior aprofundamento na elaboração de seus personagens. Caminhando na superficialidade, expõe detalhes do plano maligno de Tessa logo no início e aposta na ingenuidade do seu contraponto, Julia, para cair na armadilha.
Entre um clichê e outro, o longa, porém, desperta um efeito indesejado: o suspense transforma-se em uma quase comédia, visto a sua capacidade de arrancar risos nos momentos mais tensos. O divertimento vem do completo absurdo do roteiro, que alterna o caricato com o nonsense. Claramente fracassando no seu propósito, revela-se o que os americanos chamam de guilty pleasure (prazer proibido), que diverte por ser essencialmente ruim.
De todos os atores, Katherine Heigl é a que parece mais aproveitar seu papel e encarna o mal em sua forma mais pura. Seu relacionamento com a filha não deixa de lembrar o igualmente péssimo filme sobre Joan Crawford, “Mamãezinha Querida”.
Com um final que ultrapassa qualquer limite do bom senso, “Paixão Obsessiva” coroa-se como um péssimo exemplo de embate feminino no cinema, que não só reduz seus personagens a arquétipos estereotipados como falha em executa-lo de maneira coerente. Ainda assim, provoca algumas risadas.
Ficha técnica
Ano: 2017
Duração: 100 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: suspense
Elenco: Katherine Heigl, Rosario Dawson, Geoff Stults, Isabella Kai Rice
Diretor: Denise Di Novi
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