Por Luciana Ramos

 

Seria mesmo necessária outra estória sobre Peter Pan? Inúmeras sequências em animação e live-action já reviraram o conto de J. M. Barrie sobre o menino que não queria crescer e suas aventuras, dando inclusive vazão a um longa sobre o processo criativo da escrita, o lindo e comovente “Em busca da Terra do Nunca”.

Como em Hollywood nada se esgota, tudo se renova na forma de mais um filme sobre o mesmo assunto, surge “Peter Pan”, versão onde o roteirista Jason Fuchs criou uma estória de origem que nem menos sentíamos falta.

Ambientado nos meados dos anos 40, em plena Segunda Guerra Mundial, conhecemos o pequeno Peter (Levi Miller) vivendo no orfanato, esperançoso pelo dia em que sua mãe virá buscá-lo. Sob cuidados de freiras não muito bondosas, o garoto e seu amigo Niles (Lewis McDougall) passas os seus dias à procura da solução de um mistério: crianças órfãs parecem desaparecer durante a noite.

 

A investigação cessa quando o próprio protagonista é laçado pelo teto e jogado no convés de um navio flutuante, a cargo dos empregados do cruel Barba Negra (Hugh Jackman). Transportado para um universo paralelo, a Terra do Nunca, Peter vê-se forçado a trabalhar em uma mina com a missão de exaurir o “pó de pixum” ( também conhecido como pó de pirlimpimpim) das rochas.

peter 1

Lá, conhece o mineiro Capitão Gancho (Garret Hedlund), que o ajuda a fugir e encontrar por acaso um povo nativo que luta contra o Barba Negra. Convencido que é “o escolhido” por ser portador da flauta Pan, Peter junta-se à herdeira nativa Princesa Tigrinha (Rooney Mara, curiosamente interpretando uma índia) para libertar as fadas e derrotar Barba Negra de vez.

Voltada claramente para o público infantil, não só pelo teor do tema mas como pela arquitetura visual, a nova versão de “Peter Pan” foi montada como uma fábula, o que ajuda na imersão das crianças no universo mágico.

Para tanto, o roteiro apostou na concepção maniqueísta dos personagens, com exceção do Capitão Gancho, com oscilações de humor e motivações. Neste caso, a dubiedade foi incluída como forma de instigar o momento em que ele e Peter tornam-se inimigos mortais, seguindo a lógica do conto.

Do ponto de vista técnico, há a contraposição entre o concreto cinzento do mundo real e a explosão de cores da Terra do Nunca, que ainda remete à lagos mágicos e navios flutuantes para intensificar o tom de fábula do filme. Talvez o maior exemplo seja o fato de os nativos mortos virarem pó colorido, inserção visual que se mostra apelativa aos olhos ao mesmo tempo que suaviza a violência, garantindo aos espectadores mirins a leveza prometida.

Ainda que seja visualmente imponente e possua certa atratividade às crianças, a sensação que fica à todos que conhecem a obra de J. M. Barrie é a de um filme um tanto vazio, devido à completa supressão dos elementos simbólicos presentes no conto. No longa de Joe Wright, o Capitão Gancho, pior inimigo de Peter Pan, não é um vilão ou tem um gancho no lugar da mão; já o crocodilo Tic-Tac, que aparece para lembrar o menino da voracidade do tempo, é mostrado completamente descontextualizado e sem significado. O mesmo acontece com a fada Sininho, cuja presença é tão rápida que podia ser facilmente suprimida. Ainda mais grave é a descaracterização do protagonista que, nesse longa, tem medo de voar e não de crescer, sua característica mais forte.

 

Tais mudanças, vistas isoladamente, afetariam pouco na qualidade narrativa do longa; porém, quando unidas, causam a impressão de que a obra original foi mal explorada em sua adaptação cinematográfica.

Como resultado, “Peter Pan” é um longa mediano que possui um forte apelo visual, acompanhado de boas interpretações e excelente trilha sonora, mas que peca por esvaziar a riqueza narrativa do seu conto de origem. Ainda assim, deve encantar as crianças pela explosão de cores.

Ficha técnica peter poster


Ano:
 2015

Duração: 111 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: aventura, fantasia

Elenco: Levi Miller, Hugh Jackman, Garret Hedlund, Rooney Mara

Diretor: Joe Wright

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

peter 3 peter 4 peter 5 peter 6 peter pan 7

Avaliação do Filme

Veja Também:

Rivais

Por Luciana Ramos Aos 31 anos, Art Donaldson (Mike Faist) está no topo: além de ter vencido campeonatos importantes, estampa...

LEIA MAIS

Guerra Civil

Por Luciana Ramos   No fascinante e incômodo “Guerra Civil”, Alex Garland compõe uma distopia bastante palpável, delineada nos extremos...

LEIA MAIS

A Paixão Segundo G.H.

Por Luciana Ramos   Publicado em 1964, “A Paixão Segundo G.H.” foi há muito considerado um livro inadaptável, dado o...

LEIA MAIS