Por Luciana Ramos

 

Greg Sesteros sonhava em ser um ator reconhecido, mas parecia ser o único a ter fé na sua vocação – até conhecer um homem completamente desinibido e confiante que, com um estranhíssimo sotaque (apesar de dizer que nasceu em Nova Orleans), lhe garantiu que os dois teriam em sucesso em Hollywood.

 

Anos de rejeição provaram o contrário e Tommy Wiseau decidiu tomar o destino de ambos pelas mãos: ele iria criar um roteiro com todos os elementos que a indústria do entretenimento tanto gosta e filmá-lo com baixo orçamento, dando a si e a seu amigo Greg os papéis principais. “The Room”, o resultado dessa empreitada, amargou nas bilheterias até atingir o status cult de “pior filme já feito”, quando passou a lotar sessões de meia-noite com um público que ansiava por rir da obra.

 

 

O produtor e ator James Franco entrou em contato com esta história através do livro escrito por Sesteros, onde detalhava os bastidores de uma filmagem que ignorava cronogramas, apreço pela qualidade narrativa e, ainda mais impressionante, preceitos técnicos básicos. Filmado em duas câmeras, uma digital e uma em película de 35mm, o longa refletia a ignorância do diretor sobre o funcionamento básico de um set de filmagem, algo inflado pelo seu ego desmedido.

 

Em “Artista do Desastre”, James Franco concentra a jornada desse infame projeto na interação entre Wiseau e Greg. Ao interpretar o alienado diretor no papel principal, ele torna o ridículo o elemento que definirá toda a comédia. De sua atuação perfeccionista (enaltecida pelo uso do split screen nos créditos finais), destaca-se a voz estridente e incompreensível do protagonista, que descarta o uso de artigos ou conjugação verbal, mas afirma de pés juntos ser americano.

 

O mistério que ronda a sua origem, ao mesmo tempo que adiciona humor a trama pela obviedade das suas mentiras, o impede de obter considerável profundidade. A sua exploração apenas em tom caricatural torna difícil para o público desenvolver afeição por sua persona e, sendo assim, a risada permanece por toda a projeção no caráter absurdo dos fatos reais.

 

Ainda que não atinja um nível mais apurado na narrativa principal, “Artista do Desastre” mostra-se eficiente nas construções periféricas, como na elaboração dos personagens secundários que fazem parte da equipe. Suas frustrações recorrentes, quando contrapostas à permanência em um ambiente de trabalho regido pelo dinheiro e pela loucura, expõem um lado pouco glamoroso de Hollywood, o da sobrevivência, que torna aceitável para eles venderem seus ideais criativos a fim de se sustentarem.

 

 

Por outro lado, a apreciação do filme de James Franco decai rapidamente na passagem onde aparece quase nu e insulta a todos os membros da equipe, em especial a atriz com quem contracena. É impossível assistir essa cena de ficção sem a lembrança das denúncias que rondam o ator, acusado exatamente de promover um ambiente tóxico e se aproveitar da sua posição de poder. Neste momento, o humor dá espaço ao desconforto, somente superado quando o longa dispensa o caráter abusivo de seu protagonista e volta a abraçar o patético, tornando-o, mais uma vez, a piada central.

 

Através da jornada de construção de uma obra tão ruim que se tornou adorada, o espectador é convidado a rir do melodrama excessivo de “The Room”, as atuações que variam da ausência de emoção ao overacting, seus inúmeros clichês e o desnecessário uso do chroma key em todas as cenas. Com passagens impagáveis que expõem o pior que Hollywood já produziu, “Artista do Desastre” demonstra excelência na arte da comédia.

 

Pôster

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 104 min

Gênero: comédia, biografia

Diretor: James Franco

Elenco: James Franco, Allison Brie, Dave Franco, Seth Rogen

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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