Por Marina Lordelo
Paul T. Anderson tem uma atuação consistente no cinema estadunidense como diretor e roteirista, especialmente em obras como “Boogie Nights: Prazer Sem Limites” (1997), “Magnólia” (1999) e “Sangue Negro” (2007). O seu último lançamento, “Trama Fantasma” (2017), teve grande aceitação da crítica, em parte por atribuir discurso (ainda que questionável) à controversa temática da fetichização, mas também por conta de sua forma cinematograficamente coerente combinando ritmo, cadência na montagem e preciosismo imagético.
Indicado a seis estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme, melhor diretor, melhor atriz coadjuvante e melhor ator, “Trama Fantasma” deposita suas maiores chances nesta última categoria. Daniel Day-Lewis é Reynolds Woodcock, um importante estilista de vestidos elegantes da Inglaterra do pós-guerra, que, dedicado ao trabalho criativo, busca inspiração em sua acompanhante e modelo Alma (Vicky Krieps).
Com uma trilha sonora que transita entre o jazz de Oscar Peterson, o clássico de Debussy, Brahms e Schubert e as composições originais do jovem Jonny Greenwood, a narrativa ganha um ritmo eficiente, ainda que necessariamente morosa em seu primeiro ato. Assim como uma obra de música erudita, o filme é um engenho de diferentes instrumentos sinfônicos que segue uma complexidade genuína, declaradamente aprisionado pelo pentagrama de um roteiro concebido por uma mente masculina.
E se Anderson assume a sua descrença em relações afetivas através do quase intragável Woodcock, entrega sua percepção verossímil da condição humana, que não é maniqueísta e muito menos unidimensional. Econômico nos diálogos e investido no potencial das imagens, a chama que sustenta a linguagem escolhida pelo diretor está na atuação preciosa de Day-Lewis, que é capaz de assumir a impenetrabilidade de seu personagem paradoxalmente frágil e destruído por seus traumas pregressos e por uma vida desprovida de afeto. Salvaguardado pela atuação competente de Krieps, Alma é uma mulher absolutamente condescendente – respeita os limites impostos, fala pouco e se contenta com migalhas. Mas a transformação da musa é dinâmica e sem remorsos (de ambas as partes), ainda que seja uma personagem teleológica e que está ali para cumprir uma lamentável função – questionar a zona de conforto do vaidoso burguês.
Além das questões políticas e de gênero que o filme transita, “Trama Fantasma” declara onde deseja ir em uma sequência delicada, quando uma mulher da elite local nitidamente destruída pelas pressões de seu contexto socioeconômico voraz “não é digna de um vestido da casa Woodcock”, mais uma vítima de absoluta falta de empatia. E assim Anderson faz o seu espectador se sentir, desajustado, incomodado e descrente, ainda que, de alguma forma, seja capaz de se envolver no meticuloso relacionamento de seus protagonistas.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 130 min
Gênero: drama, romance
Diretor: Paul Thomas Anderson
Elenco: Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Vicky Krieps
Trailer:
Imagens: