Por Luciana Ramos

 

O jovem Elio (Timothée Chalamet), de dezessete anos, aproveita um preguiçoso verão italiano para estudar partituras e conviver com os amigos. Introvertido e observador, tem seus sentidos aguçados com a chegada do americano Oliver (Armie Hammer), pupilo de seu pai, que se hospedará por seis semanas com a sua família.

A intimidade forçada em dividir um banheiro desperta a curiosidade do adolescente, impulsionada pela clara diferença entre os dois: Oliver parece ser o seu oposto, com o jeito despojado que adiciona uma aura cool a qualquer interação social. Convivendo amigavelmente, eles desenvolvem uma mútua admiração, pautada na dominação de ambos de algum conhecimento erudito, claros indicadores de inteligência e sagacidade.

 

 

Em oposição a interação de nível intelectual, há pequenos toques, esbarrões, que afloram em Elio impulsos sexuais, explorados na privacidade do seu quarto com o que tem as mãos. Sem conseguir compreender as intenções do americano, o jovem abre-se para as possibilidades da fantasia e do romance, desabrochando para o amor.

A trama, essencialmente tratada a partir do seu ponto de vista, evolui de maneira gradual, incorporando o cotidiano como componente imprescindível para o relacionamento dos dois. Assim, quando este finalmente concretiza-se, parece mais orgânico do que em outras obras do tipo, sendo o estágio mais avançado no jogo de interesse e sedução.

Construído a partir das sutilezas, “Me Chame Pelo Seu Nome” explora o contato amoroso que domina e transforma as pessoas, levando-as, no contexto do filme, a lentamente assumirem a identidade da outra, a fundirem-se pelo desejo e amor (daí o título). Em contraponto, discute a aceitação social por meio do caráter sigiloso do relacionamento, tratando em especial das dificuldades que ambos têm em afirmarem suas reais personas por medo do escrutínio público – algo justificado pela escolha do momento do longa, passado em 1983.

 

 

O roteiro de James Ivory, mescla do livro homônimo de André Aciman e suas experiências pessoais, foi potencializado pela direção de Luca Guadagnino, que soube explorar não só a beleza natural das locações, como a implícita ao tema. Combinando closes das expressões faciais dos atores a planos de detalhes, o diretor imprimiu caráter sensorial a obra, finalizada com aspecto granulado adequado à época. Em complemento, há o uso da trilha sonora, que mistura elementos clássicos a componentes dos anos 80, como o sintetizador. Esse trabalho musical culmina na ótima “Miracle of Love”, de Sufjan Stevens.

A simplicidade da estruturação narrativa requeria um trabalho intenso entre os atores, que conduziriam o tom da produção. Enquanto Armie Hammer executa um ótimo trabalho, deixando a dubiedade e insegurança de sua personagem envoltas em um ar de despreocupação, é Timothée Chalamet que se destaca, sendo a figura que carrega a obra. É impressionante a naturalidade com que constrói Elio e, aos poucos, deixa entregar seus sentimentos, primeiro através do rosto para, posteriormente, usar o corpo, chegando a literalmente se jogar em cima de Hammer em determinado momento.

Ao talento dos dois, soma-se o de Michael Sthulbarg, que vem construindo um bom nome em Hollywood ao escolher papéis menores e desempenhá-los com perfeição. No momento mais importante do longa, é seu discurso que sintetiza a história, emocionando pela sensibilidade com que expõe sua percepção do amor.

“Me Chame Pelo Seu Nome” constrói-se a partir da delicadeza, do cotidiano e, por isso, do tempo necessário para a evolução dos sentimentos. Ao explorar o desabrochar do amor em um jovem rapaz, mostra-se sensível, aprofundado e universal.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 132 min

Gênero: drama, romance

Diretor: Luca Guadagnino

Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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