Por Bruno Tavares

 

Há quem diga que, para cada geração norte-americana, existe uma guerra diferente. Contando a partir da II Guerra Mundial, os EUA se envolveram em nada menos do que, pasmem, 25 conflitos. Entre eles estão batalhas importantes em países como Vietnã, Iraque e Afeganistão. As consequências desses duelos são sentidas de maneira dura pelos combatentes e é isso que acompanhamos em “A Melhor Escolha”.

Dirigido por Richard Linklater, o longa acompanha Larry “Doc” Shepherd (Steve Carell), o reverendo Richard Mueller (Laurence Fishburne) e Sal Nealon (Bryan Cranston), veteranos da Guerra do Vietnã. Décadas depois do conflito, os três amigos se reúnem para enterrar o filho de Doc, um jovem fuzileiro naval abatido no Iraque. Após uma série de acontecimentos, a história torna-se uma espécie road trip, na qual o trio relembra alegrias e ressentimentos do passado.

Com uma construção de personagens bem feita, é possível perceber como a trama embute em cada figura dramática características e significados únicos. Larry, por exemplo, é a cola que mantém o grupo unido e representa o luto e a dor. Richard, por sua vez, é a religiosidade e a sabedoria. Ele é a figura mística que fala constantemente sobre o amor de Deus e seus preceitos. Em contrapartida temos Sal, que personifica a descrença, a ironia e também atua como o alívio cômico. De sua postura descontraída e irritadiça vem as melhores tiradas, tão necessárias para dissipar a carga de tristeza de toda a situação. Com frequência, Richard e Sal atuam como influências opositoras sobre Larry, sendo ele o personagem mais centrado dos três. Tudo isso é permeado por interpretações dignas do calibre dos atores, com destaque para Bryan Cranston. Entre todos, ele é o que está mais à vontade em seu papel e faz escolhas condizentes com a personalidade de Sal.

Tendo personagens tão díspares e, por isso mesmo, complementares, o longa mostra ao público como a vida acontece de maneira diferente para cada pessoa. Mesmo Larry, Richard e Sal tendo um passado em comum, cada um tomou rumos diferentes e colheu os frutos de suas escolhas. Entretanto, a narrativa nos lembra que nos momentos mais difíceis de nossa existência, os amigos verdadeiros são os pilares nos quais nos apoiamos para seguir em frente, não importando em qual estágio da vida eles estão.

Em uma interpretação mais profunda, é possível notar a crítica que a produção tece contra a cultura de guerra dos EUA. Em diversos momentos, os diálogos questionam a real necessidade dos conflitos e ironiza a importância que é dada para as baixas de combatentes. Sal, por exemplo, se mostra amargurado ao citar que hoje o Vietnã é um destino turístico, mesmo tendo sido o túmulo de 50 mil jovens americanos. Essa depressão que envolve as lembranças do pós-guerra se mostra em tela num paralelismo às avessas. O trio de veteranos sofre de amargura ao ver a história se repetir. Enquanto isso, os jovens alistados seguem os mesmos caminhos que tantos outros percorreram antes, demonstrando alto nível de amor e honra para com sua pátria.

Por possuir uma trama reflexiva mais focada nos conflitos internos dos personagens, o filme possui um ritmo lento e não apresenta grandes reviravoltas. A ausência quase total da trilha sonora nos momentos dramáticos auxilia a construir esse tom sorumbático e dá mais destaque às atuações. Porém, diante de tantos assertos, “A Melhor Escolha” se mostra como um bom drama de desilusões, mas que acaba sendo monocromático demais para se tornar memorável. Mesmo sendo lançado no Brasil com meses de atraso, o maior atrativo para ir aos cinemas talvez seja ver Bryan Cranston em tela cheia.

 

Pôster

 

 Ficha Técnica:

Ano: 2017

Duração: 125 min

Gênero: drama, guerra, comédia

Diretor: Richard Linklater

Elenco: Steve Carell, Laurence Fishburne, Bryan Cranston, J. Quinton Johnson, e Deanna Reed-Foster

 

Trailer:

 

 

Imagens:

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