Por Marina Lordelo
Maria Alice Vergueiro é uma atriz de teatro paulistana com 83 anos de idade. A sua interessante trajetória profissional é retratada a partir da montagem de sua última peça no documentário “Górgona” (2018), dos diretores estreantes Fábio Furtado e Pedro Jezler.
Completamente endividada e ignorada pela indústria cultural, a atriz assume o mal de Parkinson nos palcos e enxerga para além das coxias na sua última performance teatral em “As Três Velhas”, obra do cineasta e dramaturgo chileno Alejandro Jodorowsky. Em uma aproximação com o teatro do absurdo, o documentário tenta compor uma espécie de poesia entre a narrativa teatral e a vida de Maria Alice Vergueiro de forma intimista e bastante sensível.
Furtado e Jezler tentam apresentar uma obra metalinguística, combinando aspectos da tragédia grega aos fatores dramáticos contemporâneos, transitando entre os delicados temas do envelhecimento e da morte. Apostando em superenquadramentos, luzes direcionais e profundidade de campo pequena, o documentário tem uma rima visual com a dinâmica espacial do teatro, uma forma inteligente de explorar praticamente o mesmo cenário em todos os planos – que se alternam basicamente entre palco, camarins e coxia.
Ao ouvir os espirituosos diálogos dos bastidores, experimentar o vigor da preparação do elenco seguindo majoritariamente a técnica documental da não-entrevista, os diretores encontram em Maria Alice Vergueiro a representação alegórica do teatro enquanto linguagem artística – e que sobrevive por uma espécie de paixão da condição humana pela representação visceral e imediata das sensações. Experimentar os dramas da atriz e também da personagem são uma combinação razoável para que esse mergulho seja tão intenso para o espectador quanto é para o ator cada vez que a campainha soa três vezes.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2016
Duração: 77 min
Gênero: comédia, drama
Diretores: Pedro Jezler, Fábio Furtado
Elenco: Maria Alice Vergueiro, Pascoal Da Conceicao, Danilo Grangheia
Trailer:
Imagens: