Por Bruno Tavares

 

Los Angeles é conhecida como a capital internacional do assalto à banco. Na maior cidade da costa oeste dos EUA, uma instituição financeira é assaltada a cada 40 minutos todos os dias. Essas estatísticas assombrosas são exibidas logo nas primeiras cenas de “Covil dos Ladrões”, filme que estreia a carreira de Christian Gudegast como diretor. Na trama, acompanhamos dois grupos de personagens: os assaltantes, que tentam penetrar no banco mais bem guardado da Califórnia, e os policiais, que logicamente procuram impedir que isso aconteça.

Sempre trabalhando nessa estrutura dupla, o longa acompanha Nick O’Brien (Gerard Butler) como líder dos oficiais da lei. À frente de seu departamento, Big Nick é o típico policial que não segue regras, mas possui um bom instinto de campo.  Já os golpistas são chefiados por Ray Merrimen (Pablo Schreiber) que, pintado como vilão desde o início, é o conhecido brutamontes que luta para vencer o sistema. Para completar, temos Donnie Wilson (O’Shea Jackson Jr), que aparece em cena como um agente duplo e provavelmente é o único personagem que possui uma segunda camada de complexidade.

Mesmo possuindo uma história rasa, a produção entrega tudo o que se espera de filmes do subgênero: uma profusão de tiroteios, perseguições policiais e planos mirabolantes.  Nesse sentido, a produção mostra a que veio logo de cara. A primeira sequência começa frenética e insere o público no meio da troca de balas. Apesar de meio apressado, o conflito inicial acelera a pulsação graças às saraivadas de projéteis que destacam o bom trabalho da equipe de mixagem de som. Tal característica vai se repetir nos encalços do terceiro ato, que se apresenta intrincado e inteligente, com um  plot twist final surpreendente à sua maneira.

 

 

Outro ponto que também agrada o espectador experiente é a citação direta à “Casablanca” (1942). Em determinado momento, o personagem de Donnie faz uma referência ao bar que Rick Blaine (Humphrey Bogart) administra. No clássico, heróis e antagonistas frequentam o mesmo estabelecimento e é possível notar claramente quem é quem. Já no título analisado aqui, mesmo indo aos mesmos ambientes, a diferença entre os grupos é bem menos marcada. Ambos os lados têm um código de honra, fazem uso de métodos escusos para alcançarem o que querem, utilizam armamentos pesados e possuem um forte senso de irmandade. Com o mesmo tempo de tela para as duas facções, na prática, a única coisa que os diferencia é seu objetivo final. Essa igualdade é reforçada pela insípida fotografia.  Todos os ambientes são compostos por tons duros e amadeirados que reforçam a aspereza dos homens que vemos em tela.

Porém, os pontos positivos acabam por aí. Com um elenco majoritariamente masculino, a produção acaba por conter uma narrativa machista e retrata as mulheres como acessórios ou empecilhos dramáticos. Nick aparece como um grande machão que trai a esposa e ainda faz show quando ela opta pelo divórcio. O agravante é que o filme parece abonar as faltas do personagem de Butler pois, “afinal”, ele é um home da lei. Para humanizar e tentar maquiar suas falhas, a trama cria backgrounds pessoais para alguns dos personagens. Porém, mesmo entretível, esse recurso é desnecessário, pois nenhuma das cenas familiares têm qualquer impacto na ação final.

 

 

Reside aí o pior pecado de “Covil de Ladrões”: a estagnação de seus personagens. Por teoria, um bom roteiro deve apresentar mudanças decisivas e irreversíveis na vida das figuras que aparecem em cena. Salvo raras exceções, elas devem começar a história em um ponto, passar pelo período que o filme se propõe a acompanhar, e chegar transformadas ao final. Porém, a obra de Christian Gudegast parece ignorar todas essas normas. Peguemos Nick como exemplo: ele começa sendo um policial truculento e machão, que caça confusões com outros setores, mas tem um senso quase paranormal para lidar com assaltos. Pois bem, ao final ele continua sendo essa mesma pessoa. Nenhum dos seus conflitos, internos ou externos, mudou sequer uma dessas características. O Big Nick continua sendo igual… e isso é chato. Os demais seguem o mesmo desenvolvimento raso, o que prejudica o longa como um todo.

Por ser a primeira produção do diretor é possível que alguns desses erros sejam justificáveis. Para o público fã do gênero, todos os defeitos apontados aqui são supérfluos, uma vez que os tiros e a ação são suficientes. Todavia, para se destacar do mar de filmes ruins que Hollywood derrama nos cinemas todos os anos, Gudegast ainda precisa de muito esforço e estudo. Uma sequência do longa já foi anunciada. Resta saber se a equipe envolvida seguirá a mesma forma frágil da produção atual, que se apoia em justificativas forçadas e personagens obtusos, ou aprenderá com os erros e entregará uma ação com roteiro minimamente decente. É esperar para ver… ou não.

 

Pôster:

 

 

Ficha Técnica:

Ano: 2018

Duração: 140 min

Gênero: Ação, Crime, Drama

Diretor: Christian Gudegast

Elenco: Gerard Butler, Pablo Schreiber, O’Shea Jackson Jr. e 50 Cent

 

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