Por Luciana Ramos
A jovem Edith Cushing (Mia Wasikowska) vive na cidade americana Buffalo do século XIX aos cuidados do pai rico. Avessa às limitadoras normais sociais da época, devota o seu tempo em escrever romances sobre fantasmas, entidades que diz acompanhá-la desde a primeira infância.
Um dia, enquanto passa a limpo seu manuscrito no escritório do pai, encanta-se pelo jovem aristocrata Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), um baronete falido que procura investidores para uma tecnologia que possa extrair argila vermelha do solo de sua mansão inglesa.
Após um trágico incidente, Edith casa-se com Thomas e muda-se para o lugar em questão, a Colina Escarlate, onde viverá sob os cuidados da cunhada, a misteriosa Lucille (Jessica Chastain).
A mansão, outrora imponente, é agora decrépita: possui buracos no teto e partes condenadas. Soterrada pela argila vermelha, que invade as frestas e escorre pelas paredes, ela parece respirar e conter os segredos mais obscuros. Estes vão aos poucos se revelando à pura Edith com a ajuda de novas aparições fantasmagóricas.
Definido pelo próprio diretor Guillermo del Toro como um romance gótico, a narrativa explora arquétipos maniqueístas para consolidação da trama. Há a inocente Edith, de semblante assustado e voz baixa, delineada em contraponto à austeridade e sisudez de Lucille, sua cunhada. É do embate entre essas duas personagens femininas que se fundamenta o sentido da estória. Já o terceiro elo, Thomas, oscila em motivações e atitudes, o que o torna um personagem mais fraco.
Em decorrência desse deslize, algumas passagens próximas ao final sofrem uma queda de qualidade narrativa, aliada à necessidade de exaustiva explicação por meio dos diálogos. Porém, “A colina escarlate” compensa esses equívocos com um desfecho interessante e um visual arrebatador.
O filme é um banquete para os olhos. A preocupação estética é nítida desde o detalhado design de produção aos lentos movimentos de câmera que o exploram. A riqueza cenográfica é tamanha que o espectador pode facilmente perder-se nas imagens, em especial quando o diretor constrói alegorias interessantes, como uma parede de mariposas.
O mesmo cuidado é passado ao figurino, belíssimo e recheado de simbolismos. Com mangas bufantes, fraques e caudas em babados, as roupas ajudam a delinear o caráter de cada personagem através do uso das cores. Ao passo que Edith aparece sempre em tons pastéis e tecidos leves, sua antagonista direta, Lucille, veste-se com roupas pesadas e em tons bordô. A indefinição da personalidade de Thomas o faz sobrepor as cores preto e branco, com mesclas de cinza.
“A colina escarlate” é uma reafirmação do preciosismo de Guillermo del Toro. Oscilando entre terror sobrenatural e romance gótico, gêneros que lhe são preciosos, o diretor tece uma estória cujas pequenas falhas são completamente suplantadas pelo virtuosismo das imagens. Autoral e deslumbrante, é um filme de tamanha riqueza estética que merece ser visto.
Ano: 2015
Duração: 119 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: romance gótico, horror
Elenco: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston
Diretor: Guillermo de Toro
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