Por Luciana Ramos
Produto da tendência literária de explorar futuros distópicos em sagas para “jovens adultos” (young adults, como classificado), a série Divergente trouxe questionamentos sobre identidade em uma configuração social autocrática e massificadora.
O sucesso tornou inevitável a sua adaptação cinematográfica e os retornos financeiros, por sua vez, na divisão da história em quatro filmes. “A Série Divergente: Convergente”, terceiro deles e, portanto, preâmbulo do desfecho da saga, tenta diferenciar-se ao expandir o seu universo, mas acaba falhando miseravelmente na sua pretensão de entreter.
O longa começa imediatamente após os eventos do segundo filme: Tris (Shailene Woodley) divulga a mensagem deixada pelos ancestrais, revelando que Chicago é na verdade um experimento social no qual os divergentes possuem um papel relevante.
Convidados por estes a atravessarem o muro e juntarem-se aos outros, os moradores da cidade são impedidos por Evelyn (Naomi Watts), nova líder, que clama proteger seus interesses – e, como esperado, age pela sede de poder.
Um confronto entre ela e Johanna (Octavia Spencer) acentua-se e, afim de conseguir uma resolução para a iminente batalha, Tris decide descobrir o que há além dos muros. Ao seu lado estão Quatro (Theo James), Caleb (Ansel Elgort), Peter (Miles Teller), Christina (Zoë Kravitz) e Tori (Maggie Q).
Surpresos pelo teor futurista das cidades que encontram, eles são acolhidos por David (Jeff Daniels), comandante desse território. Ele é responsável por uma extensa pesquisa genética e demonstra interesse na cooperação de Tris para “criar um mundo melhor”, discurso questionado por Quatro.
Entre reviravoltas previsíveis e a resolução incrivelmente fácil dos conflitos apresentados, o longa mostra que tem muito pouco a acrescentar em termos narrativos. De fato, configura-se como uma derrocada em relação às obras anteriores, sendo claramente o pior produto da saga até o momento.
Além da substituição rasa do discurso envolvendo os divergentes por outro, sobre pureza genética, há o completo abandono da característica mais importante da protagonista por boa parte da trama, o seu caráter contestador. Como se não bastasse, algumas falhas de roteiro (como o olfato seletivo dos personagens) são tão graves que interrompem por completo a suspensão de descrença necessária para o entretenimento.
A concepção visual é igualmente falha, seja pelo aspecto sanitário da cidade futurista, seja pela péssima escolha de efeitos visuais pixelados. Porém, nada é tão grave quanto as passagens em chroma key, cuja artificialidade somente pode ser comparada à sua utilização nos filmes dos anos 50, quando a tecnologia não era bem desenvolvida.
Diante da esterilidade que permeia roteiro e estética, resta ao espectador assistir inerte a uma trama arrastada e com sérios problemas de lógica. Assim, “A série Divergente: Convergente” consegue destruir os méritos conquistados nos filmes anteriores. A única esperança resta na retomada de um certo nível de qualidade narrativa na parte final da saga distópica, uma tarefa muito difícil de ser realizada.
Ficha técnica
Ano: 2016
Duração: 121 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: ação, aventura, ficção científica
Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Naomi Watts
Diretor: Robert Schwentke
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