Por Luciana Ramos
Vinte e nove anos após o lançamento de “Abracadabra”, as irmãs Sanderson retornam à Salem para uma nova aventura de Halloween. Voltado para o público infantil, o filme de 1993 se tornou uma espécie de clássico entre o público millenial, que cresceu assistindo a atração em looping. Como chamarizes, estavam o carisma do trio principal, o olhar-guia de uma criança e alguns ingredientes assustadores, como zumbis, poções e uma sensação de perigo real.
“Abracadabra 2” nasce desse carinho do público, moldado em uma era de reaproveitamentos que aposta em derivações nostálgicas. Como esperado em tal produção, há o reciclamento descarado de piadas, situações e delineamentos de personagens, mas o foco narrativo muda da dupla original de irmãos para um trio de amigas interessadas em magia.
O Dia das Bruxas marca nada menos que o aniversario de Becka e, por isso, ela segue à risca uma tradição que flerta com signos ocultos como forma de estabelecer contato. Junto à Izzy, ela segue para a floresta, acende uma vela mágica…e acaba atraindo as irmãs Sanderson de volta à Terra. Conforme as regras, estas precisam achar o livro de bruxarias, atrair crianças para a morte e, assim, rejuvenescerem; caso contrário, ao nascer do sol, estarão mais uma vez condenadas.
Intercalando piadas sobre novas tecnologias desconhecidas às Sanderson com uma série de desventuras com os habitantes fantasiados de Salem, a trama caminha em moldes não só conhecidos, como mais superficiais que o filme original, visto que um certo pudor é adotado com relação a passagens assustadoras – talvez um sinal dos tempos. Em contraponto, o roteiro acerta bastante ao deslocar o sentido da sequência para a exploração da magia como uma extensão da união e amor entre as irmãs, mesmo atabalhoada e nem sempre bem-sucedido.
Essa dinâmica se reflete no forte laço entre Becka, Izzy e Cassie, abalados após a última começar a namorar e alçar novos voos de popularidade no colégio. Esses paralelos oferecem o que há de melhor na produção, valendo-se do talento de Bette Midler em momento chave para garantir a recompensa emocional da narrativa. Aliás, cabe mencionar que é uma alegria observar Midler, Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy claramente se divertindo em seus papéis, oferecendo pitadas cômicas que demonstram o domínio que as três possuem da arte. Infelizmente, isso na se reflete no já referido trio formado por Whitney Peak, Belissa Escobedo e Lilia Buckingham, que carece do mesmo controle de cena e carisma.
Oscilando entres esses dois polos, surgem buracos narrativos que ajudam na superficialidade da experiência: desenvolvimentos de plots são abandonados ou transformados, assim como o foco do filme, demonstrando certa carência de ideias originais. Invariavelmente, “Abracadabra 2” denota ter sido dobrado à conveniência dos roteiristas, carecendo de senso lógico por vezes. Isso, no entanto, não inviabiliza a produção, já que seu destino é um público mais compreensivo e engajado por natureza. De qualquer forma, é sempre um prazer ver os talentos de Bette Midler serem explorados.
Ficha Técnica
Ano: 2022
Duração: 90 min
Gênero: comédia, família, fantasia
Direção: Anne Fletcher
Elenco: Bette Midler, Sarah Jessica Parker, Kathy Najimy, Whitney Peak, Lilia Buckingham, Belissa Escobedo